São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MENOS CHANCES PARA A PAZ

O Hamas, uma mortífera mistura de organização terrorista, partido político, fraternidade religiosa e entidade filantrópica, obteve mais votos do que o esperado nas eleições municipais na Cisjordânia, na semana passada. Diante do resultado, já não se pergunta se o Hamas será ou não bem-sucedido no pleito legislativo previsto para janeiro, mas sim o tamanho de sua votação.
É uma péssima notícia para o Fatah, partido do presidente palestino Mahmoud Abbas, e, por conseguinte, para o processo de paz. A crescente popularidade do Hamas se dá à custa do prestígio do Fatah. Boa parte da culpa deve ser atribuída à própria administração palestina, que continua corrupta e ineficiente.
Parte da responsabilidade, entretanto, cabe também ao premiê israelense Ariel Sharon. Ele passou a maior parte de seu mandato afirmando que os líderes palestinos ligados ao Fatah não eram parceiros confiáveis para a paz -declarações que o Hamas sempre fez questão de frisar para o público interno. Mais do que isso, Sharon não ajudou a fortalecer Abbas como poderia. Não lhe deu, por exemplo, a chance de tentar capitalizar para seu partido a retirada das tropas israelenses de Gaza. Tampouco permitiu que a polícia palestina se organizasse e se armasse. São atitudes que contribuíram para tornar a tão propalada fragilidade do Fatah uma profecia auto-realizável.
Vai-se estreitando, assim, a chamada janela de oportunidade para a paz. Imaginava-se que, após a morte de Iasser Arafat, no ano passado, e a retirada de Gaza, ficaria mais fácil chegar a um entendimento. Mas o tempo agora conspira contra um acordo.
O gabinete israelense está demissionário e, embora Sharon seja favorito à reeleição (se seu estado de saúde melhorar, como previsto), ela só deve ocorrer no final de março. Até lá, nada de relevante será decidido. Quanto aos palestinos, tudo indica que o já claudicante Abbas ficará ainda mais fraco após as legislativas do mês que vem.


Texto Anterior: Editoriais: POUCO A COMEMORAR
Próximo Texto: A bordo do vôo 739 - Clóvis Rossi: Diário do novo velho mundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.