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MENOS CHANCES PARA A PAZ
O Hamas, uma mortífera mistura de organização terrorista,
partido político, fraternidade religiosa e entidade filantrópica, obteve
mais votos do que o esperado nas
eleições municipais na Cisjordânia,
na semana passada. Diante do resultado, já não se pergunta se o Hamas
será ou não bem-sucedido no pleito
legislativo previsto para janeiro, mas
sim o tamanho de sua votação.
É uma péssima notícia para o Fatah, partido do presidente palestino
Mahmoud Abbas, e, por conseguinte, para o processo de paz. A crescente popularidade do Hamas se dá à
custa do prestígio do Fatah. Boa parte da culpa deve ser atribuída à própria administração palestina, que
continua corrupta e ineficiente.
Parte da responsabilidade, entretanto, cabe também ao premiê israelense Ariel Sharon. Ele passou a
maior parte de seu mandato afirmando que os líderes palestinos ligados ao Fatah não eram parceiros
confiáveis para a paz -declarações
que o Hamas sempre fez questão de
frisar para o público interno. Mais do
que isso, Sharon não ajudou a fortalecer Abbas como poderia. Não lhe
deu, por exemplo, a chance de tentar
capitalizar para seu partido a retirada
das tropas israelenses de Gaza. Tampouco permitiu que a polícia palestina se organizasse e se armasse. São
atitudes que contribuíram para tornar a tão propalada fragilidade do
Fatah uma profecia auto-realizável.
Vai-se estreitando, assim, a chamada janela de oportunidade para a paz.
Imaginava-se que, após a morte de
Iasser Arafat, no ano passado, e a retirada de Gaza, ficaria mais fácil chegar a um entendimento. Mas o tempo agora conspira contra um acordo.
O gabinete israelense está demissionário e, embora Sharon seja favorito à reeleição (se seu estado de saúde melhorar, como previsto), ela só
deve ocorrer no final de março. Até
lá, nada de relevante será decidido.
Quanto aos palestinos, tudo indica
que o já claudicante Abbas ficará ainda mais fraco após as legislativas do
mês que vem.
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