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EMÍLIO ODEBRECHT
O ser humano
e a natureza
TENHO ACOMPANHADO com
atenção os recentes debates
sobre meio ambiente. Trata-se de assunto em que nós, brasileiros, temos muito a dizer, pelo conhecimento que já acumulamos
em manejo sustentável de ecossistemas. O ambientalismo será tanto
mais consistente quanto mais focado estiver no ser humano. Embora
esta afirmação possa soar paradoxal, ela faz todo o sentido.
Não há como analisar homem e
natureza enquanto categorias estanques. Seres humanos surgiram
e vivem no mundo natural, ainda
que sejamos a espécie com a maior
capacidade de alterá-lo. Dissociar
um do outro ou, pior, tentar mostrá-los como elementos antagônicos, é um erro.
Devemos defender o meio ambiente para o homem e não apesar
do ou contra o homem. Militantes
e estudiosos não podem perder isso de vista.
Não concordo com a intocabilidade dos recursos naturais. Com
uma população que, em breve, chegará a 200 milhões de pessoas, o
Brasil precisa explorar tais recursos para garantir trabalho e renda
para todos. Mas explorar de forma
que gerem uma riqueza perene e se
renovem para servir também a
nossos filhos e netos.
É condenável qualquer doutrina
que torne o homem mero instrumento de uma causa que não o serve, e a defesa do meio ambiente não
pode degenerar numa espécie de
fundamentalismo surdo.
Pergunto-me a que serve a sacralização da Amazônia. Esta imensa
parte do nosso território precisa
desenvolver-se e ter seu potencial
beneficiando o país. Isto deve ser
feito com os cuidados que merecem a flora e a fauna daquela região; porém, o que mais a ameaça
não é o crescimento, mas sim a estagnação econômica, a qual leva os
habitantes locais à devastação da
mata como alternativa de sobrevivência.
Insisto: a prioridade é o bem-estar do ser humano, que precisa de
energia elétrica, água tratada, alimentos saudáveis, clima agradável,
ar não poluído... de uma vida decente, enfim.
O melhor para nós é que os recursos minerais, por exemplo, sejam explorados de forma racional e
sustentável, em prol de todos, ao
invés de permanecerem enterrados sob o solo, indefinidamente,
sem gerar benefícios a ninguém.
Não podemos deixar que o ambientalismo se petrifique na forma
de um discurso hostil à sociedade
moderna e sirva de base para demagogias políticas.
Precisamos evoluir para a compreensão de desenvolvimento e
preservação como faces da mesma
moeda, contrapondo a uma postura negativa de proibição absoluta a
disposição de aprender como fazer
para que este desenvolvimento
ocorra sem prejuízo do planeta e
das gerações futuras.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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