São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Evolução do emprego

Histórico da década revela economia maleável, capaz de crescer mesmo com pesados empecilhos institucionais e problemas macroeconômicos

Neste final de ano, a taxa de desemprego terá chegado a 5,7%, menos da metade da que era registrada no início do governo Lula.
Tal notícia, apesar do que há nela de obviamente positivo, suscitará compreensível preocupação. Trata-se de mais um indicador a apontar um aquecimento talvez excessivo da atividade econômica. Convém todavia recordar quão positiva tem sido a evolução do mercado de trabalho.
Houve bom crescimento econômico entre 2004 e 2007, de 4,7% ao ano, índice elevado para um país que vinha de quase um quarto de século de crise. A taxa de desemprego, no entanto, parecia insistentemente alta, com variações entre 12% e 9% nesse período.
Mesmo um nível razoável de atividade produtiva, talvez no limite do "potencial" brasileiro, parecia não ser bastante para redundar em menos desemprego.
De 2008 em diante, porém, o desemprego foi rapidamente reduzido, com a exceção compreensível do breve momento recessivo de 2009. Afora esse tropeço, a formalização do emprego foi crescente.
Caiu a desigualdade da renda do trabalho. Houve aumentos reais de monta no valor do salário mínimo. Ainda assim, a inflação manteve-se em torno da meta. As taxas reais de juros declinaram -em torno de 17% no início do governo Lula, chegam agora a 6%, tendo já esbarrado nos 5%.
Aparentemente, a cada ano a economia brasileira pareceu mudar, para melhor, o seu patamar de normalidade. Ou seja, foi possível que níveis sucessivamente menores de desemprego e maior formalização do trabalho convivessem com juros reais cada vez menores, ao mesmo tempo em que o salário mínimo crescia.
Em tese, ciclos de alta do produto, do emprego, de resto acompanhados de aumentos reais de renda, e do piso salarial, deveriam redundar em ciclos de aperto monetário, aumento da desocupação ou da informalidade. Não é, todavia, o que parece ter ocorrido.
Durante essa quase década, a economia brasileira não chegou a revelar o seu padrão "normal", nem sua taxa "natural" de desemprego (aquela que não provoca inflação), muito menos ainda o seu PIB "potencial".
Talvez esse momento tenha chegado. Emprego, nível de utilização da capacidade produtiva, o nível de importações, a demanda interna que cresce muito além do PIB, afora o próprio nível de preços, tudo isso talvez indique que o país tenha encontrado o seu limite "cíclico" de crescimento, ao menos por agora.
Daí que pareça inevitável uma alta de juros já em janeiro próximo. O histórico da década, contudo, revelou uma economia muito maleável, capaz de voar mesmo com pesados empecilhos institucionais e avarias macroeconômicas. Pode-se imaginar o progresso, então, que trariam um pouco mais de inteligência e alguns planos de azeitamento da economia.


Próximo Texto: Editoriais: Descaso com o voto

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.