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KENNETH MAXWELL
Terremoto
ÀS 9h40min , no dia 1º de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, um grande
terremoto destruiu boa parte de
Lisboa. O epicentro do terremoto
foi ao largo da costa, e por volta das
11h uma imensa onda varreu Lisboa com força de maremoto.
Tsunamis são muito raros no
oceano Atlântico, e a elevação súbita do mar inundou os alagadiços
aluviais sobre os quais boa parte da
cidade havia sido construída. Para
aumentar o terror e a destruição
daquela manhã fatídica, logo irromperam incêndios, que duraram
uma semana até serem debelados.
Lisboa era então um dos maiores
e mais prósperos portos da Europa.
Ouro, diamantes e mercadorias coloniais fluíam do vasto império ultramarino português, especialmente do Brasil. Acredita-se que o
terremoto tenha atingido intensidade entre 8,5 e 8,75 pontos na escala Richter. Das 20 mil moradias
que existiam em Lisboa, apenas
3.000 se mantiveram habitáveis. O
palácio real, à beira-mar, foi destruído, assim como o novo teatro
de ópera, as residências urbanas
dos nobres e muitas igrejas e mosteiros. Estima-se que os prejuízos
totais tenham equivalido a 10% da renda nacional.
O destino de Lisboa chocou filósofos e pregadores de toda a Europa e da América. A reação pessimista de Voltaire é bem conhecida.
Rousseau, chocado com o que Voltaire havia escrito, reafirmou as
causas naturais da catástrofe. Em
Veneza, Casanova, aproveitando o
abalo, escapou do palácio do Doge, onde se encontrava detido.
Mas a reação mais surpreendente aconteceu em Portugal. Sebastião José de Carvalho e Mello, mais
conhecido pelo seu título posterior
de marquês de Pombal, agiu com
notável presteza para enfrentar as consequências do terremoto.
As "providências", implementadas nos três dias que se seguiram
ao abalo, poderiam perfeitamente
servir de modelo aos sofridos haitianos. A primeira envolvia a remoção e o sepultamento dos mortos,
para evitar que doenças se espalhassem. A segunda era o combate
à fome. A terceira envolvia tratar os
feridos. A quarta se destinava a cuidar dos sobreviventes e persuadir a
população a retornar a Lisboa. A
quinta se referia aos saques e à punição dos ladrões. Por fim, ele
ordenou uma investigação para determinar a melhor maneira de reconstruir a cidade.
O centro de Lisboa que hoje vemos resulta diretamente da iniciativa de Pombal. As praças principais, o Rossio e a praça do Comércio, assim como as ruas que se encontram ligadas, foram todas construídas de acordo com o projeto
pombalino. Mas suas "providências" também representam uma
lista muito útil de referência quanto ao que fazer diante de uma
catástrofe.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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