São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Viaduto das almas

A BR-040 é das rodovias mais movimentadas do Brasil e liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte. Possui, no entanto, um ponto de extrema periculosidade. É o "viaduto das almas", também conhecido como "viaduto vila rica", a 50 km da capital mineira.
Trata-se de uma obra arrojada de engenharia inaugurada em 1957: um pontilhão de 262 metros de extensão, com estrutura de cimento apoiada sobre o vale, que une, com traçado em curva, duas elevações.
Há uma beleza inegável no projeto arquitetônico. Mas as condições de uso do viaduto vieram modificando-se com os anos. Intensificou-se o tráfego de caminhões e de carretas de alta tonelagem e de numerosos ônibus e tornou-se quase ininterrupta a passagem de carros (15 mil por dia). A estrada que dá acesso ao viaduto tem forte declive, o que, naturalmente, acelera os veículos. A ponte é estreita, com defesas laterais frágeis e, em parte, destruída pelos acidentes. Os motoristas atravessam o viaduto com apreensão, sabendo que é difícil prever as surpresas do fluxo na mão contrária.
O resultado é, infelizmente, conhecido. Os acidentes rodoviários se multiplicaram e quase sempre são fatais devido à altura da queda no abismo. Houve vários desastres com ônibus, o que acarretou dezenas de mortos e feridos. O presidente do Sindicato da União Nacional dos Caminhoneiros, José Natan Emídio, afirma que, nestes anos, mais de 200 pessoas perderam a vida no local.
Essa situação levou o sindicato e outras entidades a requerer das autoridades medidas urgentes em socorro da segurança dos usuários. Em 29/2/ 2002, reuniram-se, na entrada do viaduto, caminhoneiros, motoristas e familiares dos acidentados para rezar e lançar um apelo ao governo pela segurança dos viajantes. Desde então, no entanto, pouco se fez, e outras tragédias aconteceram.
Ontem, 20/2/2004, nova concentração se realizou na cabeceira do viaduto, promovida pelo Sindicato dos Caminhoneiros -com apoio de 24 prefeitos que integram a Associação dos Municípios do Alto Paraopeba-, pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco e Congonhas e pela Federação dos Trabalhadores Rodoviários de Minas Gerais. Participaram numerosos habitantes das cidades vizinhas clamando pela urgência de uma solução adequada: "Queremos a vida, não a morte". Na ocasião, foi celebrada uma missa campal pelas vítimas e por suas famílias, pedindo também a Deus prudência para os motoristas e pronta intervenção das autoridades para a construção do novo pontilhão. Está em grave risco a vida humana, dom de Deus.
A freqüência maior de desastres nas últimas semanas exigiu medidas imediatas enquanto se aguarda o início das obras. Assim, dotou-se de melhor sinalização o percurso de acesso, alertando sobre o perigo com numerosos redutores de velocidade.
O importante, no entanto, é providenciar, o quanto antes, uma solução segura e definitiva para que o "viaduto das almas" preserve as vidas humanas.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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