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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Viaduto das almas
A BR-040 é das rodovias mais movimentadas do Brasil e liga o Rio
de Janeiro a Belo Horizonte. Possui,
no entanto, um ponto de extrema periculosidade. É o "viaduto das almas",
também conhecido como "viaduto vila rica", a 50 km da capital mineira.
Trata-se de uma obra arrojada de
engenharia inaugurada em 1957: um
pontilhão de 262 metros de extensão,
com estrutura de cimento apoiada sobre o vale, que une, com traçado em
curva, duas elevações.
Há uma beleza inegável no projeto
arquitetônico. Mas as condições de
uso do viaduto vieram modificando-se com os anos. Intensificou-se o tráfego de caminhões e de carretas de alta tonelagem e de numerosos ônibus e
tornou-se quase ininterrupta a passagem de carros (15 mil por dia). A estrada que dá acesso ao viaduto tem forte declive, o que, naturalmente,
acelera os veículos. A ponte é estreita,
com defesas laterais frágeis e, em parte, destruída pelos acidentes. Os motoristas atravessam o viaduto com apreensão, sabendo que é difícil prever as surpresas do fluxo na mão contrária.
O resultado é, infelizmente, conhecido. Os acidentes rodoviários se multiplicaram e quase sempre são fatais devido à altura da queda no abismo.
Houve vários desastres com ônibus, o
que acarretou dezenas de mortos e feridos. O presidente do Sindicato da
União Nacional dos Caminhoneiros,
José Natan Emídio, afirma que, nestes
anos, mais de 200 pessoas perderam a
vida no local.
Essa situação levou o sindicato e outras entidades a requerer das autoridades medidas urgentes em socorro
da segurança dos usuários. Em 29/2/
2002, reuniram-se, na entrada do viaduto, caminhoneiros, motoristas e familiares dos acidentados para rezar e lançar um apelo ao governo pela segurança dos viajantes. Desde então, no
entanto, pouco se fez, e outras tragédias aconteceram.
Ontem, 20/2/2004, nova concentração se realizou na cabeceira do viaduto, promovida pelo Sindicato dos Caminhoneiros -com apoio de 24 prefeitos que integram a Associação dos
Municípios do Alto Paraopeba-, pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro
Branco e Congonhas e pela Federação
dos Trabalhadores Rodoviários de
Minas Gerais. Participaram numerosos habitantes das cidades vizinhas
clamando pela urgência de uma solução adequada: "Queremos a vida, não
a morte". Na ocasião, foi celebrada
uma missa campal pelas vítimas e por
suas famílias, pedindo também a
Deus prudência para os motoristas e
pronta intervenção das autoridades
para a construção do novo pontilhão.
Está em grave risco a vida humana,
dom de Deus.
A freqüência maior de desastres nas
últimas semanas exigiu medidas imediatas enquanto se aguarda o início
das obras. Assim, dotou-se de melhor
sinalização o percurso de acesso, alertando sobre o perigo com numerosos
redutores de velocidade.
O importante, no entanto, é providenciar, o quanto antes, uma solução
segura e definitiva para que o "viaduto
das almas" preserve as vidas humanas.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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