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ELIANE CANTANHÊDE
Dilma, o PT e o "depois"
BRASÍLIA - O PT fala uma língua,
a sua candidata à Presidência fala
outra. Faz sentido. Dilma Rousseff
louva sua história de resistência à
ditadura militar, mas trata de garantir o alegre apoio dos banqueiros e grandes empresários, que se
deram bem no governo petista. E o
partido se empenha em manter viva a fé das bases sindicais, estudantis, agrárias, todas devidamente dóceis ao poder na era Lula.
No seu quarto congresso, aos 30
anos, o PT aprovou o apoio integral
ao programa de direitos humanos,
ao imposto sobre grandes fortunas,
à maior liberdade para as invasões
do MST, à jornada de 40 horas semanais e ao fim do "monopólio" dos
meios de comunicação, cultura e
entretenimento.
Dilma não abriu a boca sobre nenhum deles no seu discurso. Seguiu
a máxima de Lula, de unir "a cabeça
e a emoção", e falou de Minas, onde
nasceu, do Rio Grande do Sul, onde
se fixou, de filha, genro, o futuro neto (ou neta), de companheiros que
caíram na resistência à ditadura. E
expôs o seu delicado equilíbrio ao se
comprometer com os pequenos e os
grandes produtores rurais -sempre eleitos como cruéis inimigos
pelas bases petistas.
Como previsto, o "happening" foi
para lançar o futuro, mas festejou
principalmente o presente: Lula foi
a grande estrela nos discursos, nos
filmes, nas fotos, nos aplausos.
Aliás, registre-se que as estrelas que
haviam sumido em 2006 estão de
volta. Com toda a força.
A dúvida é quanto ao depois. Na
campanha, fala-se o que convém.
No governo, faz-se o que se quer e o
que se pode. Se Dilma for presidente, ela vai seguir o que o PT prega ou
o que a candidata hoje diz?
A resposta está nas alianças que
fizer e também na sua biografia, nas
suas crenças, nos seus traumas, na
sua personalidade. Lula não se arvora "de esquerda" e foi muito hábil
ao equilibrar interesses e fazer prevalecer os seus. Mas não custa lembrar: Dilma não é Lula.
elianec@uol.com.br
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