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Ocupantes do poder
Abusos e escândalos da política brasileira parecem repetir-se com mais intensidade nas Assembléias estaduais
POLTRONAS dotadas de mecanismo massageador,
compradas a mais de R$ 3
mil por unidade, garantem o conforto dos deputados na
Assembléia Legislativa de Mato
Grosso, conforme noticiado pela
Folha nesta semana. Graças a
uma tecnologia de "indução
magnética", as poltronas se tornam capazes de "ativar a circulação" dos parlamentares mato-grossenses.
Num espírito de blague, a que a
notícia sem dúvida convida, caberia perguntar se não seria melhor se as tais poltronas tivessem
assentos ejetores. A metáfora se
aplicaria ao sistema do "recall",
vigente em alguns Estados norte-americanos, que faculta ao
eleitorado reivindicar de volta o
mandato dos representantes que
não tenham honrado o cargo -e
as poltronas- que ocupam.
Falta, no Brasil, esse recurso
democrático, que exigiria de todo modo complexas adaptações
institucionais para ser implantado aqui. Seja como for, o caso da
Assembléia Legislativa de Mato
Grosso comparece apenas como
uma nota pitoresca, numa situação de aguda desmoralização
parlamentar em todos os quadrantes do território nacional.
Vem de Alagoas o exemplo
mais estarrecedor. Nove deputados estaduais tiveram seus mandatos (mas não seus vencimentos) suspensos pela Justiça do
Estado. Investigações da Polícia
Federal indicam o envolvimento
dos parlamentares com abusos
de dimensões excepcionais,
mesmo para o padrão notoriamente imoderado que prevalece
na política brasileira.
Os deputados alagoanos não
apenas se apropriavam, segundo
a PF, de salários que deveriam
ser pagos a funcionários e assessores, numa prática que está longe de ser inédita no país. Também faziam empréstimos pessoais que eram pagos com recursos da Assembléia; o dinheiro
serviu para comprar fazendas,
apartamentos e carros importados. No total, os desvios acumulam R$ 280 milhões.
Além dos nove deputados já
afastados pela Justiça, outros
dois foram indiciados pela PF.
Quanto aos suplentes, que devem assumir nas próximas semanas, há cinco que também
respondem a processos.
Não se bateu ainda o recorde
de Rondônia, onde foi revelado,
em 2006, o envolvimento de 23
dos 24 deputados estaduais em
fraudes na folha de pagamento
da Assembléia, num desvio de R$
70 milhões. As investigações da
PF chegaram também a nomes
de juízes e secretários de Estado
com participação no esquema.
Se, no âmbito federal, um forte
contingente de parlamentares
está longe de manifestar padrões
aceitáveis de conduta, pelo menos a opinião pública os acompanha com mais intensidade. Nas
Assembléias Legislativas, entretanto, tudo indica haver margens
maiores para o descalabro. Menos mal que em Alagoas se comece a coibi-lo; mas tirar deputados
de seus postos continua a ser
bem mais difícil, sem dúvida, do
que providenciar novas e custosas poltronas para quem já está
instalado no poder.
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