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CLÓVIS ROSSI
Limonada Meirelles
LONDRES - Esse Henrique de
Campos Meirelles é um gênio. Primeiro, conseguiu eleger-se deputado federal pelo PSDB apenas para
abandonar o cargo em troca do cargo de ministro da Economia justamente do PT, teoricamente o maior
inimigo do PSDB. Modesto, Meirelles prefere ser chamado apenas de
presidente do Banco Central -ou
"governor of the Central Bank" como se irrita sempre o Elio Gaspari.
Agora, Meirelles comete a mágica
de transformar o limão dos juros
obscenamente altos que praticou
em seus seis anos e três meses de
gestão em uma gostosa limonada,
anunciando que a política econômica é tão bem-sucedida que, ao contrário do que ocorria em crises anteriores, pode dar-se ao luxo de reduzir os juros.
É claro que não é por isso, mas
pelo fato de que os juros estão completamente fora de órbita há muito
tempo -mas quem há de discutir a
limonada de Meirelles, um cidadão
tão afável e cordial?
Logo depois da primeira vez que
elevou os juros, dias após a posse de
Lula, em janeiro de 2003 (de indecentes 25% para obscenos 26,5%),
Meirelles caiu em Davos.
Cruzei com ele e perguntei como
ele convencera o presidente a aumentar uma taxa que já estava nos
píncaros.
Respondeu Meirelles: "Disse a
ele que, no Brasil, a inflação dispara
sempre que atinge os dois dígitos".
Como é óbvio, não se trata de
ciência, mas de mandinga pura. Fui
ler a Constituição, a Bíblia, a Torá e
o Corão, e em nenhum desses livros
sagrados está dito que a inflação
dispara ao atingir dois dígitos.
Mas Lula acreditou, até porque
lhe convinha acreditar. Sabia que
Meirelles -e os juros altos- era seu
habeas corpus preventivo para uma
tentativa de desestabilização por
parte dos mercados que o presidente passou a tratar com a reverência
de um totem. Daí à limonada foi um
passo apenas.
crossi@uol.com.br
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