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EMÍLIO ODEBRECHT
A televisão e a política
A CAMPANHA eleitoral deste
ano, que extraoficialmente
já está nas ruas, é mais um
passo importante na caminhada do
Brasil rumo ao futuro.
Quanto mais as práticas democráticas ocorrem, mais os cidadãos
se aperfeiçoam nas mesmas. A
construção da boa política é, sobretudo, fruto de uma espécie de pedagogia continuada feita de sucessivas experiências do exercício do
voto ao longo do tempo.
Como toda pedagogia, esta também se enriquece com o contato
humano. E é exatamente sobre isso
que quero falar.
Antigamente, nossa política padecia de males graves, os quais, felizmente, estão superados. Lembremo-nos da República Velha, onde os resultados dos pleitos eram
sistematicamente fraudados; dos
usos e costumes nos tempos do coronelismo no Nordeste; e mesmo
da pura e simples ausência do direito de votar nos períodos autoritários que já vivemos.
Mas não fará mal algum admitirmos que havia um lado bom na política de então: a proximidade entre população e governantes era muito maior do que na atualidade.
As campanhas eram feitas na base de comícios. Nos períodos eleitorais, qualquer pessoa tinha a
chance de ouvir o candidato no
qual pretendia votar discursando e
expondo em praça pública sua biografia e seus compromissos de governo. Tais práticas conferiam à
política uma dimensão humana
que está se perdendo. Hoje, o que
faz diferença é a televisão.
Não faria sentido, obviamente,
que os partidos trocassem a força
da TV -através da qual se fala com
milhões de pessoas ao mesmo tempo- pelo corpo a corpo nas ruas.
Mas com isso, nossos políticos estão privados das vaias e dos aplausos, que são, sem dúvida, os melhores termômetros da receptividade do eleitorado.
A campanha pela TV não é um
mal em si. O problema está no papel que cabe ao candidato. Nas coligações o que conta não são as convergências programáticas e ideológicas, mas os minutos na televisão
que os partidos têm para oferecer.
O discurso não é pautado pelo formulador do plano de governo, mas
pelo marqueteiro -senhor absoluto das falas, das roupas, dos óculos
e até do corte do cabelo do candidato.
Perdemos a autenticidade do
passado e não me parece saudável
que a maior parte do povo brasileiro conheça quem pretende conduzir nosso destino na tela de um televisor, embalado em um artificialismo distante do mundo real, reproduzindo, sem convicção, gestos
teatrais.
Interpretar papéis é tarefa para
atores; gerir um país é encargo de
estadistas. Revelar a diferença que
há entre uns e outros seria muito
bom para nossa democracia.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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