São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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História concisa

VINICIUS MOTA

São Paulo - Nos tempos de antanho, uns portugueses chegaram aqui. As terras eram enormes; a Coroa não sabia o que fazer com elas. Fez a primeira concessão à iniciativa privada de nossa história. Dom João 3º bolou as capitanias hereditárias. Deu errado.
Depois, com mais controle dos reis, numa parceria com os empreendedores, tentou-se plantar cana. Não deu certo. Vieram os holandeses, levaram o segredo e dominaram o mercado.
Os ancestrais tinham um bom negócio de "trading" entre a África e o Brasil. Os "tradeables" eram escravos. Mais tarde, porém, os ingleses acabaram com essa festa. Não deu certo.
Sertão adentro, encontrou-se ouro. Microempresários retiravam o minério, a Coroa tungava-lhes com impostos. Deu certo para os ingleses, sempre eles, credores de Portugal. Mas os brasileiros encontraram uma chance de se vingar dos britânicos. "Vamos vender café para eles." Produziu-se tanto que o mercado ficou abarrotado, o preço caiu. Não deu certo.
Instalaram-se umas indústrias depois. Umas grandes estatais. Pensou-se no Brasil Grande. Mas o resultado foi sangue, recessão, miséria e inflação. Também não deu certo.
O povo às vezes se revoltava. Até botava algum "sinhô" para correr. Com os revoltosos de cacife, negociava-se. Aos rotos sobravam as baionetas e as matadeiras. Falhou.
Por último veio um sociólogo com uma fórmula para domar a inflação e dar ao país divisa respeitável. Não deu certo. Foi pego no teste antidoping da finança internacional. O real forte usava anabolizante. E vamos pagar esse pato ainda por muito tempo.
Mesmo dopado, o real, num último arranque, ainda foi capaz de dar ao presidente um segundo mandato.
Eis que agora uma réstia de povo ameaça melar a festa dos 500 anos, o coroamento dessa história gloriosa. Mas o chefe da República não titubeia. Diz que não tolera baderneiros. Afinal, é preciso ordem. Está escrito na bandeira. Dê-lhes, presidente.


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