|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
História concisa
VINICIUS MOTA
São Paulo - Nos tempos de antanho,
uns portugueses chegaram aqui. As
terras eram enormes; a Coroa não sabia o que fazer com elas. Fez a primeira concessão à iniciativa privada de
nossa história. Dom João 3º bolou as
capitanias hereditárias. Deu errado.
Depois, com mais controle dos reis,
numa parceria com os empreendedores, tentou-se plantar cana. Não deu
certo. Vieram os holandeses, levaram
o segredo e dominaram o mercado.
Os ancestrais tinham um bom negócio de "trading" entre a África e o Brasil. Os "tradeables" eram escravos.
Mais tarde, porém, os ingleses acabaram com essa festa. Não deu certo.
Sertão adentro, encontrou-se ouro.
Microempresários retiravam o minério, a Coroa tungava-lhes com impostos. Deu certo para os ingleses, sempre
eles, credores de Portugal. Mas os brasileiros encontraram uma chance de
se vingar dos britânicos. "Vamos vender café para eles." Produziu-se tanto
que o mercado ficou abarrotado, o
preço caiu. Não deu certo.
Instalaram-se umas indústrias depois. Umas grandes estatais. Pensou-se no Brasil Grande. Mas o resultado
foi sangue, recessão, miséria e inflação. Também não deu certo.
O povo às vezes se revoltava. Até botava algum "sinhô" para correr. Com
os revoltosos de cacife, negociava-se.
Aos rotos sobravam as baionetas e as
matadeiras. Falhou.
Por último veio um sociólogo com
uma fórmula para domar a inflação e
dar ao país divisa respeitável. Não deu
certo. Foi pego no teste antidoping da
finança internacional. O real forte
usava anabolizante. E vamos pagar
esse pato ainda por muito tempo.
Mesmo dopado, o real, num último
arranque, ainda foi capaz de dar ao
presidente um segundo mandato.
Eis que agora uma réstia de povo
ameaça melar a festa dos 500 anos, o
coroamento dessa história gloriosa.
Mas o chefe da República não titubeia. Diz que não tolera baderneiros.
Afinal, é preciso ordem. Está escrito na
bandeira. Dê-lhes, presidente.
Texto Anterior: Editorial: CRISE À ITALIANA
Próximo Texto: Brasília - Rui Nogueira: Mais 500? Índice
|