|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAINEL DO LEITOR
Coteminas
"O ilustre corregedor-geral da União,
Waldir Pires, escreve ao "Painel do Leitor" (pág. A3, 11/4) para dizer que ficou
surpreso com a coluna "Governo Lula ganha o primeiro esqueleto" (Brasil, 6/4),
de Josias de Souza. O texto comentava o
novo arquivamento do processo, aberto
por minha solicitação, para apuração de
possível fraude praticada pela empresa
Coteminas na aquisição da safra de algodão, o que lhe permitiu receber um subsidio pela Conab. O fato é que a Coteminas adquiriu em leilão um produto que
já era seu, em conluio com o próprio
produtor, para ter direito ao subsídio.
Mais que surpreso, fiquei indignado.
Até este momento, não recebi nenhuma
comunicação sobre o andamento do
processo -que, sei agora pela própria
carta do corregedor, foi arquivado.
A justificativa do corregedor é que "ao
contrato de compra e venda sobreveio o
distrato entre as partes, antes que fosse a
coisa efetivamente entregue". Ora, esse
distrato existe? No ofício que encaminhei ao corregedor, assinalo que não conheço nenhuma documentação que
comprove o distrato. A própria Coteminas, em seu comunicado público feito
em 15 de dezembro de 2002, afirma terem sido os contratos de compra do algodão do produtor "parcialmente cancelados pela devolução de parcelas antecipadas". Parcialmente? Antes do leilão?
Foi feita alguma investigação?
Acima de tudo, é lícito, legítimo e ético,
ainda que distrato houvesse, que produtor e industrial em conluio se apropriassem de recursos públicos que são destinados ao escoamento da produção,
nunca ao aumento da rentabilidade do
negócio? Não se burlou a finalidade do
Prêmio de Escoamento da Produção?
Só me resta, diante da recusa do corregedor-geral a averiguar o bom uso dos
recursos públicos, o acesso à Justiça. É o
que farei."
Alberto Goldman, deputado federal pelo
PSDB-SP (Brasília, DF)
Cuba, Brasil e o PT
"O governo do Brasil assumiu posição
correta abstendo-se de votar a resolução
sobre os direitos humanos em Cuba na
Comissão de Direitos Humanos da ONU
(Organização das Nações Unidas). Se o
início do governo Lula tem sido marcado
por tropeços na condução da política
econômica, as ações tomadas no plano
das relações internacionais anunciam a
esperada mudança em relação à subordinação e à dependência características
dos governos anteriores e acentuadas
nos últimos oito anos.
Desde a tomada do poder pelos revolucionários cubanos, em 1959, o foco da
política dos EUA para a América Latina
passa por Cuba. Não fosse a heróica resistência do povo cubano às agressões
que os governos de Washington lhe têm
imposto, já estariam os países latino-americanos reconvertidos à condição de
colônia, com os EUA como metrópole.
Passa por Cuba a reflexão sobre como
construirmos uma nação soberana, fundada na dignidade da vida de seu povo."
Thomaz Ferreira Jensen (São Paulo, SP)
"Realmente, o PT está cada vez mais incoerente. Seu presidente, José Genoino,
foi extremamente rápido em criticar o
governador Geraldo Alckmin pela nomeação de um delegado que fez parte da
repressão; mas não li nem ouvi uma palavra da cúpula do PT sobre o assassinato
de três cubanos que queriam apenas deixar seu país. Também não disseram nem
uma palavra sobre os 78 presos, entre
eles um escritor, cujo único crime foi discordar do "chefe supremo". E Genoino
ainda tem a coragem de criticar alguém
como o governador, que sempre foi coerente em suas posições políticas."
José Humberto Ramos de Mello
(Penápolis, SP)
"O Brasil, se quiser ser membro permanente do Conselho de Segurança da
ONU com direito a vitaliciedade de voto,
precisa ter mais firmeza nas suas posições pelo não-alinhamento ativo. Se condena veementemente o imperialismo
norte-americano, tem de fazer o mesmo
em relação a Fidel Castro.
É preciso ter e manter a firmeza imparcial. Aqui não é colônia de férias para terroristas ou imperialistas procurarem
apoio, base ou descanso. Na nova geopolítica de sempre, ou o Brasil ocupa definitivamente seu espaço como líder ativo
dos não-alinhados ou fica tropeçando
nas botas do Tio Sam, nas barbas de Fidel, nas dunas da Líbia e por aí vai."
João Diógenes Salviano (Recife, PE)
Direitos humanos
"Indigna-me a posição desta Folha, em
especial a do colunista Clóvis Rossi, em
relação às suas prioridades na denúncia
de ofensas aos direitos humanos. Não
escrevo para defender Cuba, mas para
dizer que não estou "preocupado" com a
recente onda de violações aos direitos
humanos naquele país, e sim horrorizado com as que acontecem no Brasil.
Na capa de Cotidiano, em 17 de abril,
vemos a foto dos internos da Febem.
Uma instituição como essa precisa urgentemente ser revista; o dinheiro que
cada interno custa aos cofres públicos
não está sendo investido na recuperação
dos menores infratores. No mesmo dia,
em Brasil, tivemos uma página dedicada
exclusivamente à denúncia do trabalho
infantil. Neste país há cerca de 5,48 milhões de crianças trabalhando, 48,6%
delas sem ser remuneradas.
Não é preciso nem falar de fome, pobreza, crime organizado, corrupção etc.
Está na hora de agirmos para solucionar
nossos problemas graves, em vez de ficar
falando dos problemas dos outros."
Rafael Simon Barion (São Carlos, SP)
Previdência
"Para acomodar as contas da Previdência, estão em andamento acordos nas diversas áreas políticas, econômicas e sociais. É preciso alertar para o fato de que
a aceitação dessas soluções passa pela
justiça ao contribuinte previdenciário.
Quando a pessoa quer participar de
um plano de previdência privada, assina
um contrato em que estão estabelecidas
as regras a serem cumpridas daí até a sua
aposentadoria. A contratação do plano
da Previdência Social, porém, é compulsória, obrigatória. E o que vem sendo feito no Brasil há tempos vai contra todos
os postulados de justiça.
O que o contribuinte quer é apenas a
justa correspondência entre o que recolheu enquanto trabalhava e o que receberá após se aposentar. Complexos cálculos atuariais podem definir isso periodicamente, o que significa revisão de regras
para os novos contratos, que entrarem
após essa atualização. Isso é justiça.
Não dá mais para mudar as regras por
meio de portarias, resoluções, medidas
provisórias ou decretos com o objetivo
de diminuir o déficit, reduzindo os pagamentos a que os aposentados já fazem
jus. Isso é roubo! A verdadeira reforma
previdenciária só pode ser elaborada
com transparente justiça. Caso contrário, não se sustentará."
José Renato M. de Almeida (Salvador, BA)
Pneumonia asiática
"Brilhante a análise feita pelo editorial
"O caso da Sars" (Opinião, pág. A2 de anteontem). Em pouquíssimo tempo, foi
descoberto o agente etiológico da pneumonia asiática, e a vacina já está sendo
desenvolvida. No Brasil, graças à "arrogância política" dos governos em relação
à saúde, ainda convivemos com doença
de Chagas, esquistossomose, dengue,
malária, febre amarela... até quando?"
Elias Rabahi (Goiânia, GO)
Jovens infratores
"Gostaria de parabenizar a Folha pela
lucidez do editorial "Os mesmos erros"
(Opinião, pág. A2, 17 de abril).
Concordo com a opinião do jornal de
que "canetadas" não resolvem o grave
problema dos adolescentes que cometeram atos infracionais em São Paulo. Colocar o Estatuto da Criança e do Adolescente em prática é o caminho mais sensato e o mais fadado ao sucesso da recuperação desses jovens.
Estados como Rio Grande do Sul, Roraima e Minas Gerais podem ensinar o
governo paulista a implementar a lei. O
caminho é difícil e tortuoso, mas é preciso arregaçar as mangas e ter coragem de
mudar a estrutura que está aí."
Claudio Barbosa (São Paulo, SP)
Texto Anterior: Maria José Pereira da Silva O'Neill e Cosmo Palásio de Moraes Jr.: Porque é preciso renascer
Próximo Texto: Erramos Índice
|