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FERNANDO RODRIGUES
Brasília, 44
BRASÍLIA - Brasília faz 44 anos hoje. É uma cidade desconhecida dos brasileiros. A TV mostra os desfuncionais e bonitos edifícios de Niemeyer,
a roubalheira na política ou as estrelas de Marisa nos jardins palacianos.
Há muito mais em Brasília. Por
exemplo, o curioso Pontão do Lago
Sul, um parque público às margens
do lago Paranoá. Tem bares, restaurantes, feira de artesanato e shows.
É difícil dizer se o Pontão do Lago
Sul é feio ou bonito. Logo na entrada,
há uma réplica dupla do Arco do
Triunfo. Um toque parisiense no cerrado. Rivaliza com o Borba Gato de
pastilhas de Santo Amaro, o bairro
paulistano. Ou com a Estátua da Liberdade na Barra, no Rio.
O Pontão tem um bosque de eucaliptos argentinos. Esturricados e retorcidos pelo calor, mimetizam o cenário do filme "A Bruxa de Blair".
Outro dia, o cantor de blues
B.B.King fez um show numa tenda
armada no Pontão. Brasilienses,
anapolinos e goianienses compareceram em massa. Um grande sucesso
aqui "no Goiás", como se diz.
Infelizmente, só passam dois carros
de cada vez pelo arco do triunfo do
Pontão do Lago Sul. Congestionamento de mais de uma hora para entrar e para sair. É o progresso.
Brasília só tem uma grande casa
privada de shows. Como se chama
Americel Hall, a apresentação de
B.B.King teve de ser na tenda improvisada -um dos patrocinadores era
a TIM. Não ouvi reclamações pelo
desconforto. As brasilienses afundavam com gosto os seus saltos de acrílico na lama do Pontão do Lago Sul
-havia chovido bastante.
Aos 44 anos, Brasília é uma cidade,
vamos dizer, quase cosmopolita.
Grande parte da platéia acompanhou de cor quando B.B.King bisou
com "When the Saints Go Marching
In". Ancorados no lago Paranoá,
próximos à tenda, barcos acendiam e
apagavam suas luzes. "Parece Angra", ouvia-se. Não parecia.
Erro histórico irreversível, Brasília é
isso aí. Hoje também tem show. Não
vai ser no Pontão. Ivete Sangalo se
apresenta na Esplanada. Vai lotar.
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