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ANTONIO DELFIM NETTO
Alca-México-Nafta
A experiência mostra que os fatores mais importantes para a
atração do investimento estrangeiro
são 1º) o tamanho do mercado e 2º) a
sua taxa de crescimento. Quando o tamanho do mercado é capaz de suportar uma escala de produção razoável,
ainda que num nível não internacionalmente competitivo, mas há algum
impedimento para as importações
(tarifas, cotas, similar nacional etc.), a
decisão da multinacional é instalar-se
no país para aproveitar e reservar o
mercado interno. Se o impedimento
administrativo subsiste, ela usa o poder de monopólio que ele dá às empresas aí instaladas e não lhe ocorre
nenhum estímulo exportador. Há claras vantagens e desvantagens (para o
país e para a multinacional) em tal
procedimento quando comparado ao
mundo ideal de absoluta liberdade de
comércio e pleno emprego. O problema é que não há nenhuma garantia de
que esse regime produza o pleno emprego. Um dos efeitos mais perniciosos da acumulação dessas situações é
que ela reduz a taxa de câmbio real,
prejudicando as exportações.
Quando, além do mercado interno,
o país oferece, ainda, robustas taxas de
crescimento, eleva-se o horizonte de
lucro e estimula-se a ampliação da escala de produção para torná-la internacionalmente competitiva. Entra-se
num regime de maior complementaridade produtiva, em que o comércio
intrafirmas adquire nova dimensão. É
isso que torna possível a criação de
"vantagens comparativas". A agenda
positiva do Estado interage com a
multinacional, oferecendo-lhe hospitalidade e simpatia para capturar um
pedaço da sua produção mundial com
a construção de uma base exportadora dentro do país. A multinacional internaliza sua produção exportável
porque o ambiente a acolhe com garantia de bons lucros dentro de regras
estáveis.
É por isso que temos hoje tão pouco
interesse das multinacionais para instalarem aqui suas bases de exportação. Desde 1990, recusamo-nos ao
"diálogo construtivo". Adotando a
idéia de "quem quiser vir que venha
pela mão do deus-mercado", o Brasil
perdeu todo o seu "charme". Vendemos às pressas o patrimônio nacional
no setor produtor de serviços (logo,
não-transacionáveis) oferecendo aos
compradores crédito com a poupança
nacional e dando-lhes ainda condições de lucro extremamente favoráveis (como a correção tarifária pelo
IGP-DI, que superestima o deflator
implícito, como se sabe desde os anos
50). Temos muito mais serviços, a preços muito maiores, sem ter feito nada
para resolver o problema das exportações. E nunca mais recebemos investimentos produtivos...
Assistimos agora a um movimento
perturbador. Enquanto os governos
discutem o problema da Alca, grandes
empresários nacionais exploram concretamente a construção de base exportadora para os EUA no México.
Tornam, assim, irrelevante a laboriosa
decisão do governo brasileiro e previnem-se de um fracasso nas negociações. O Brasil, entretanto, perde exportações e vê agravar-se a sua imensa
dependência externa. É hora de levar
esse problema a sério!
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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