São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Propaganda enganosa

NUMA DECISÃO exemplar, o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) determinou a suspensão de duas campanhas da Petrobras em que a estatal se enaltece como ambientalmente responsável. O Conar, provocado por secretarias de Meio Ambiente e ONGs, considerou as peças propaganda enganosa.
A Petrobras não só perpetra um dano continuado contra a saúde dos brasileiros, ao forçá-los a respirar fumaça de óleo diesel com níveis perigosos de enxofre, como ainda vem procrastinando a solução do problema.
Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente baixou a resolução 315: a partir de janeiro de 2009, o diesel deveria ter concentração máxima de enxofre de 50 partes por milhão (ppm).
O combustível comercializado em 237 cidades de grande porte tem 500 ppm de enxofre. Nos cerca de 5.300 municípios restantes, chega a 2.000 ppm. O limite máximo na União Européia é de 50 ppm e de 10 ppm a partir de 2009. Nos EUA e no Canadá, é de 15 ppm. No Japão, 10 ppm.
A Petrobras afirma que não poderá cumprir o cronograma. Na melhor das hipóteses o diesel mais limpo chega em 2013. A estatal tenta empurrar a responsabilidade para a Agência Nacional de Petróleo, que teria atrasado a especificação técnica. Não revela que ela mesma, aliada aos fabricantes de veículos, pressionou a agência para ir devagar, a fim de postergar os custos que as mudanças deverão impor à cadeia.
As conseqüências dessa "economia" não são triviais. Estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP estima que a má qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo provoque a morte prematura de 3.000 pessoas por ano. O enxofre responde por boa parte desses óbitos. Até que a Petrobras resolva isso, deve ficar calada em temas ambientais.


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