São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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VALDO CRUZ

Agora é tarde

BRASÍLIA - A paulada que o Banco Central deu nos juros levou amigos e fiéis escudeiros do presidente Lula a fazerem o mesmo diagnóstico: agora é tarde, não dá mais para trocar o presidente do BC.
O comentário, feito em tom de desabafo por alguns, é seguido da seguinte recordação: o momento para mudar o comando do banco, sem grandes traumas e solavancos no mercado, era no início do segundo mandato. Passou.
Ali, depois da reeleição do presidente petista, alguns de seus auxiliares dentro do Palácio do Planalto começaram a comentar reservadamente que Henrique Meirelles não ficaria no segundo mandato.
Lembro que um ministro palaciano chegou a dizer que um nome já estava sendo sondado. E iria surpreender, mostrando que o governo estaria mais comprometido com o crescimento econômico.
Seria, segundo esse ministro, a conclusão de um processo de guinada na política econômica, iniciado com a queda do ministro Antonio Palocci e sua substituição por Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Não vingou.
Lula decidiu manter no posto Meirelles, com a promessa de que haveria mudanças na diretoria do banco para torná-lo menos conservador e ortodoxo. As mudanças aconteceram, mas a linha do BC não se alterou.
Faltou, na avaliação de um amigo de Lula, um pouco mais de pressão para fazer a troca, principalmente por parte dos ministros Dilma Rousseff e Guido Mantega.
O presidente acabou optando, seguindo suas predileções futebolísticas, por manter o beque Meirelles, o meio-campista Mantega e a atacante Dilma. Sendo ele o técnico que, na última hora, prefere uma retranquinha para não perder o jogo.
E foi mais ou menos esse o argumento de Meirelles para defender a decisão do BC. Melhor fazer o mal agora e retomar a queda num futuro próximo, garantindo um fim de mandato com toda tranqüilidade na economia.


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