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VALDO CRUZ
Agora é tarde
BRASÍLIA - A paulada que o Banco Central deu nos juros levou amigos e fiéis escudeiros do presidente
Lula a fazerem o mesmo diagnóstico: agora é tarde, não dá mais para
trocar o presidente do BC.
O comentário, feito em tom de
desabafo por alguns, é seguido da
seguinte recordação: o momento
para mudar o comando do banco,
sem grandes traumas e solavancos
no mercado, era no início do segundo mandato. Passou.
Ali, depois da reeleição do presidente petista, alguns de seus auxiliares dentro do Palácio do Planalto
começaram a comentar reservadamente que Henrique Meirelles não
ficaria no segundo mandato.
Lembro que um ministro palaciano chegou a dizer que um nome
já estava sendo sondado. E iria surpreender, mostrando que o governo estaria mais comprometido com
o crescimento econômico.
Seria, segundo esse ministro, a
conclusão de um processo de guinada na política econômica, iniciado
com a queda do ministro Antonio
Palocci e sua substituição por Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Não vingou.
Lula decidiu manter no posto
Meirelles, com a promessa de que
haveria mudanças na diretoria do
banco para torná-lo menos conservador e ortodoxo. As mudanças
aconteceram, mas a linha do BC
não se alterou.
Faltou, na avaliação de um amigo
de Lula, um pouco mais de pressão
para fazer a troca, principalmente
por parte dos ministros Dilma
Rousseff e Guido Mantega.
O presidente acabou optando, seguindo suas predileções futebolísticas, por manter o beque Meirelles, o
meio-campista Mantega e a atacante Dilma. Sendo ele o técnico que,
na última hora, prefere uma retranquinha para não perder o jogo.
E foi mais ou menos esse o argumento de Meirelles para defender a
decisão do BC. Melhor fazer o mal
agora e retomar a queda num futuro próximo, garantindo um fim de
mandato com toda tranqüilidade
na economia.
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