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ELIANE CANTANHÊDE
O novo caos aéreo
BRASÍLIA - A nova capital da República foi fundada em 1960 e cravou uma necessária bandeira do
Brasil no coração de um país voltado para seu extenso litoral e de costas para todo o resto. Políticos, funcionários, militares e trabalhadores
deixavam famílias e histórias a distâncias continentais, quando não
havia voos e ônibus regulares.
Brasília criou, assim, uma cultura
de viagens, em especial para o Rio,
antiga capital. Todos viajam muito.
O que não se sabia é o quanto o erário paga o pato, quer dizer, a conta.
A indústria de passagens é a partir do Congresso, mas não só ali. Todos viajam com amigos e familiares.
Ministros-parlamentares atravessam a rua levando suas cotas de
voos. Senadores-empresários alugam jatinhos com as deles. Membros e até suplentes do Conselho de
Ética patrocinam viagens ao exterior para a parentada. Um deputado
faz gracinha com passagens para a
Galisteu e a mãe dela (que não eram
obrigadas a saber a origem).
As cotas são tão fartas, flexíveis e
sem controle que já se investiga até
se há um câmbio negro de passagens. Elas podem estar sendo desviadas para agências de viagens e
vendidas a preços módicos.
Nem o TCU escapa. Gasta R$ 720
mil por ano com passagens, média
de R$ 80 mil para cada ministro.
Como um deles, Raimundo Carreiro, não usou o mimo, a média é
maior ainda. Não está claro para o
que eles voaram tanto. Ou está?
Ao contrário do que se pensa, o
TCU não é tribunal superior, como
o STJ e o STM, por exemplo. É uma
corte administrativa, braço do Legislativo para julgar as contas de todos os responsáveis por dinheiros,
bens e valores federais. É quem vigia, ou auxilia o Congresso a vigiar,
o uso do dinheiro da União.
Agora é criar o conselho de ética
para o conselho de ética, comissões
de sindicância para comissões de
sindicância e TCU para o TCU. O
céu não é o limite para o caos aéreo
e ético do Congresso. Só resta fazer
como Gérson Camata: chorar.
elianec@uol.com.br
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