|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Brasília, 50
BRASÍLIA - A capital federal faz
hoje 50 anos. Valeu a pena construí-la aqui, no meio do nada? É difícil argumentar a favor.
Na área social, a contribuição de
Brasília ao mundo foi o apartheid
planejado. Nos anos 60, favelas começavam a sujar a paisagem. Pobres aos milhares foram removidos
para o cerrado aberto, a 30 km de
distância. Era a Campanha de Erradicação de Invasões. Nasceu Ceilândia. Hoje, tem 600 mil almas.
Os bairros centrais de Brasília são
higienizados. A periferia, encardida. É a terra do autoengano. Não há
favelas constrangedoras à vista como em São Paulo ou no Rio. Alguns
brasilienses festejam "con gusto" a
segregação civilizatória (sic).
Outra ideia basilar de Brasília foi
mudar o eixo de desenvolvimento
do país. Sair do litoral rumo ao centro. Houve avanços. Em 1960, a região Centro-Oeste respondia por
2,5% do PIB do Brasil. Em 2007,
pulou para 9,3% -e 40% desse bolo
sai da capital da República.
Então, deu certo? Não. Só há dinheiro público aqui. Não se fabrica
um parafuso em Brasília. A economia é uma ficção. Baseia-se 93% em
serviços anabolizados pelo governo. Os funcionários públicos detêm
40% da massa salarial.
A riqueza de Brasília é estadolatria pura. Em 2009, seu orçamento
foi de R$ 18,7 bilhões. Desse total,
R$ 7 bilhões (37%) saíram do Fundo Constitucional do Distrito Federal. Ou seja, cada um dos 192,8 milhões de brasileiros desembolsa R$
36 por ano para sustentar os escândalos candangos de dinheiro escondido em meias e cuecas.
Políticos encrencados há por toda parte, sem dúvida. Mas a capital
da República ostenta o recorde de
ser a única unidade da Federação a
ter eleito três senadores apeados do
cargo acusados de atos ilícitos.
Passados 50 anos, Brasília é uma
profecia não cumprida. Vive em
simbiose parasitária com o governo. Ao nascer, era um erro histórico. Agora, tornou-se um equívoco
irreparável por opção. Triste.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando De Barros e Silva: Monstros urbanos Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Zero hora para a mudança Índice
|