São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

Brasília, 50

BRASÍLIA - A capital federal faz hoje 50 anos. Valeu a pena construí-la aqui, no meio do nada? É difícil argumentar a favor.
Na área social, a contribuição de Brasília ao mundo foi o apartheid planejado. Nos anos 60, favelas começavam a sujar a paisagem. Pobres aos milhares foram removidos para o cerrado aberto, a 30 km de distância. Era a Campanha de Erradicação de Invasões. Nasceu Ceilândia. Hoje, tem 600 mil almas.
Os bairros centrais de Brasília são higienizados. A periferia, encardida. É a terra do autoengano. Não há favelas constrangedoras à vista como em São Paulo ou no Rio. Alguns brasilienses festejam "con gusto" a segregação civilizatória (sic).
Outra ideia basilar de Brasília foi mudar o eixo de desenvolvimento do país. Sair do litoral rumo ao centro. Houve avanços. Em 1960, a região Centro-Oeste respondia por 2,5% do PIB do Brasil. Em 2007, pulou para 9,3% -e 40% desse bolo sai da capital da República.
Então, deu certo? Não. Só há dinheiro público aqui. Não se fabrica um parafuso em Brasília. A economia é uma ficção. Baseia-se 93% em serviços anabolizados pelo governo. Os funcionários públicos detêm 40% da massa salarial.
A riqueza de Brasília é estadolatria pura. Em 2009, seu orçamento foi de R$ 18,7 bilhões. Desse total, R$ 7 bilhões (37%) saíram do Fundo Constitucional do Distrito Federal. Ou seja, cada um dos 192,8 milhões de brasileiros desembolsa R$ 36 por ano para sustentar os escândalos candangos de dinheiro escondido em meias e cuecas.
Políticos encrencados há por toda parte, sem dúvida. Mas a capital da República ostenta o recorde de ser a única unidade da Federação a ter eleito três senadores apeados do cargo acusados de atos ilícitos.
Passados 50 anos, Brasília é uma profecia não cumprida. Vive em simbiose parasitária com o governo. Ao nascer, era um erro histórico. Agora, tornou-se um equívoco irreparável por opção. Triste.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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