São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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Mortes anunciadas

Uma legião de brasileiros começou ontem a ocupar as estradas, em busca de descanso e tranquilidade no feriado extenso, mas exposta ao risco de participar da escalada de acidentes fatais nas principais rodovias do país. Somente no último Carnaval, 213 pessoas perderam a vida na malha rodoviária federal, um recorde de vítimas em nove anos.
Muitas dessas mortes são previsíveis, segundo revelou levantamento desta Folha sobre as circunstâncias de 144 colisões fatais ocorridas naquele feriado. Quase a metade, 70 delas, foi registrada nas proximidades de pontos já identificados pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) como "concentradores de acidentes".
A repetição local das tragédias indica deficiências técnicas das rodovias, como falta de sinalização, pavimentos esburacados, ausência de acostamento ou curvas mal projetadas. A imprudência também costuma ser um fator, sobretudo se aliada ao álcool.
Fica patente que o poder público falha duplamente na tarefa de prevenir acidentes: ao não oferecer condições adequadas para os motoristas e, mesmo após tomar conhecimento dos efeitos recorrentes do descaso, ao não reforçar de maneira rigorosa a fiscalização dos trechos mais perigosos.
O Dnit argumenta que exigências administrativas e prazos mínimos para preparar projetos, licitações e relatórios ambientais limitam a ação do governo. Mas a burocracia não é a única responsável pela inoperância, como comprova a demora do governo federal em reinstalar lombadas eletrônicas desativadas, por razões contratuais, desde 2007.
Os estudos mostram que tais radares fixos contribuem para uma redução de quase 70% dos acidentes nos locais onde são instalados. O governo Lula tardou a providenciar nova licitação e problemas no edital fizeram com que a disputa se arrastasse na Justiça. Só nas últimas semanas os primeiros radares, do total de 2.696 previstos, passaram a ser instalados.
Apesar da proibição, a venda de bebidas alcoólicas em rodovias continua desimpedida, na prática. Uma vez que os pontos de venda são conhecidos, assim como os trechos mais perigosos, nada - a não ser uma omissão criminosa- impede a repressão policial. É o único recurso para conter as estatísticas macabras, a cada feriado, enquanto as estradas não passam pela necessária recuperação.


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