São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A caminho da história

ROMA - Ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que retorna hoje ao Brasil, depois de uma semana entre Espanha e Itália, talvez se possa aplicar, modificando-a em um ponto fundamental, frase famosa de Getúlio Vargas, seu remoto antecessor (1930-45 e 1950-54).
Na carta-testamento, Getúlio escreveu: "Saio da vida para entrar na história".
FHC, que não vai se suicidar nem tem motivos para tanto, dá a sensação de estar dizendo: "Saio do governo para entrar na história".
Posto de outra forma: o presidente já começou a se despedir do cargo e das batalhas políticas, graúdas ou miúdas. Ou, para usar frase de um consultor político espanhol que com ele conversou na semana passada, está perdendo "agressividade política", como é natural em quem não disputa sua própria reeleição.
A avaliação do consultor espanhol, já citado neste espaço, veio à mente no ato quando FHC cortou ontem uma pergunta que mencionava Luiz Inácio Lula da Silva como seu adversário. "Meu adversário, não, eu sou presidente", disse.
Esse Fernando Henrique Cardoso que se despediu ontem da Itália confessa que só "de vez em quando" se dedicou, durante a viagem de uma semana, "a saber como é que estão as coisas do governo no Brasil".
Saboreia mais os elogios que colhe em suas viagens. Como o do presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi, que ontem disse que FHC legará "um Brasil mais forte em democracia e mais sólido em economia".
Ou como o do cardeal Angelo Soldano, secretário de Estado do Vaticano (uma espécie de ministro do Exterior do papado), que, no relato de FHC, demonstrou, também ontem, "um encorajamento pelo que o governo fez no Brasil nos últimos anos" (ia dizendo "eu" fiz, mas troco por "governo" a tempo).
Não parece haver tempo suficiente para que a obra de FHC seja substancialmente modificada. E ele não parece ter um empenho bélico em eleger José Serra. Por isso, já se prepara para os livros de história.


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