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CLÓVIS ROSSI
A caminho da história
ROMA - Ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que retorna hoje
ao Brasil, depois de uma semana entre Espanha e Itália, talvez se possa
aplicar, modificando-a em um ponto
fundamental, frase famosa de Getúlio Vargas, seu remoto antecessor
(1930-45 e 1950-54).
Na carta-testamento, Getúlio escreveu: "Saio da vida para entrar na história".
FHC, que não vai se suicidar nem
tem motivos para tanto, dá a sensação de estar dizendo: "Saio do governo para entrar na história".
Posto de outra forma: o presidente
já começou a se despedir do cargo e
das batalhas políticas, graúdas ou
miúdas. Ou, para usar frase de um
consultor político espanhol que com
ele conversou na semana passada, está perdendo "agressividade política",
como é natural em quem não disputa
sua própria reeleição.
A avaliação do consultor espanhol,
já citado neste espaço, veio à mente
no ato quando FHC cortou ontem
uma pergunta que mencionava Luiz
Inácio Lula da Silva como seu adversário. "Meu adversário, não, eu sou
presidente", disse.
Esse Fernando Henrique Cardoso
que se despediu ontem da Itália confessa que só "de vez em quando" se
dedicou, durante a viagem de uma
semana, "a saber como é que estão as
coisas do governo no Brasil".
Saboreia mais os elogios que colhe
em suas viagens. Como o do presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi,
que ontem disse que FHC legará "um
Brasil mais forte em democracia e
mais sólido em economia".
Ou como o do cardeal Angelo Soldano, secretário de Estado do Vaticano (uma espécie de ministro do Exterior do papado), que, no relato de
FHC, demonstrou, também ontem,
"um encorajamento pelo que o governo fez no Brasil nos últimos anos"
(ia dizendo "eu" fiz, mas troco por
"governo" a tempo).
Não parece haver tempo suficiente
para que a obra de FHC seja substancialmente modificada. E ele não parece ter um empenho bélico em eleger
José Serra. Por isso, já se prepara para
os livros de história.
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