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Do Madeira ao Xingu
Leilão da usina de Jirau acentua queda de preços da hidreletricidade da Amazônia; Belo Monte representa o grande teste
O LEILÃO da hidrelétrica
de Jirau, no rio Madeira (3.150 megawatts),
trouxe vários resultados animadores, sem deixar de
suscitar algumas interrogações.
O saldo mais vistoso foi o deságio
de 22% sobre o preço mínimo. A
energia de Jirau sairá por R$
71,37 o megawatt-hora (MWh),
menos ainda que os R$ 78,87 da
usina Santo Antônio, a jusante.
É um bônus para a massa de
consumidores residenciais e comerciais. Os preços da hidreletricidade caíram de modo firme
nesses dois leilões de energia nova, diante do patamar de R$ 126-131 no leilão de outubro. O governo federal festeja o sucesso da
política de redução de preços,
ancorada em projetos hidrelétricos de grande porte na Amazônia, mas subsistem dúvidas sobre sua sustentabilidade.
A primeira dúvida partiu não
de ambientalistas, mas de investidores. Assim que saiu o resultado do leilão, caíram 6% as ações
da empresa Tractebel. Ela é face
nacional da grande vencedora do
leilão, a franco-belga Suez
Energy, sócia majoritária do
consórcio Energia Sustentável.
Foi uma manifestação clara de
desconfiança na capacidade dos
vencedores de manter a lucratividade do empreendimento com
um preço tão baixo. Uma usina
125 km mais distante da capital
do Estado e com menos energia
garantida na geração que a vizinha Santo Antônio (1.975 MW,
contra 2.218 MW) em princípio
não deveria custar menos.
A Suez e parceiros como Camargo Corrêa, Chesf e Eletrosul
inovaram. Deslocaram 9 km rio
abaixo o ponto de instalação das
44 turbinas, reduzindo assim a
um décimo a escavação de rochas. Só a alteração no projeto
traz economia de R$ 1 bilhão.
Reeditando a estratégia da
concorrente Odebrecht para
Santo Antônio, o consórcio planeja adiantar em dez meses a
operação da usina e concluir a
obra antes do prazo, ainda em
2013. A antecipação lhe daria o
direito temporário de comercializar toda a energia, e não só os
30% contratuais, no mercado livre. Grandes consumidores industriais já pagam algo da ordem
de R$ 120/MWh, de acordo com
o inusitado pré-leilão realizado
sexta-feira pelo consórcio.
A audácia da engenharia vitoriosa, contudo, está na proporção direta do risco envolvido.
Não sobra muita margem para os
tradicionais atrasos em obras de
hidrelétricas. Como houve alteração no projeto contemplado
com licença ambiental prévia, é
de supor que as licenças de instalação e operação, por exemplo,
demandem mais tempo de análise, ao menos de início.
Ilude-se quem concluir que a
saída de Marina Silva da pasta do
Meio Ambiente garante um licenciamento sem percalços.
Além do Ibama, estão envolvidos
ainda Ministério Público e Justiça, fora da alçada do Executivo.
A política federal de baixar o
custo da energia se afirma e traz
benefícios claros para o público,
mas seria prematuro deduzir do
sucesso dos últimos leilões que
ela possa ser mantida indefinidamente. O grande teste virá em
2009, no leilão da usina de Belo
Monte (11.150 MW), no rio Xingu, muito mais controversa.
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