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MELCHIADES FILHO
Boca livre
BRASÍLIA - O Ministério da Fazenda mudou. Antes, preocupava-se com tudo o que dizia, ciente do
estrago que uma palavra mal-empregada poderia causar. Hoje, incontinente, não só é pródigo nos comentários como bate recordes de
balões de ensaio -idéias que são
atiradas ao vento sem que tenham
recebido a devida aprovação técnica e/ou política da Presidência.
Não surpreende, portanto, a sucessão de episódios em que o Planalto sai a público para desautorizar sua equipe econômica.
Recapitulando, apenas no último
mês, foram descartadas ou devolvidas à gaveta três medidas que tinham sido apontadas como certas
pela Fazenda: a restrição ao financiamento dos carros, o aumento das
alíquotas do Imposto de Renda e a
recriação imediata da CPMF.
No caso do imposto do cheque,
Lula deseja, sim, ressuscitá-lo (iria
abrir mão de receita?). Mas sob
uma condição, sabida desde janeiro: que o Congresso lance a iniciativa e banque o desgaste público. Por
que ele, Lula, aceitaria abraçar a
"maldade" (ampliar a carga tributária) de um projeto (dar mais verbas
para a Saúde) cujo dividendo político ficaria com o Legislativo?
Sobre a compulsão oral da Fazenda, ainda não há explicação definitiva. O jornalismo de hipóteses diria
que ministro e assessores:
* são masoquistas e gostam de ser
repreendidos pelo presidente;
* se animam com a disputa de
bastidores com o Banco Central e
tentam de todo modo ocupar espaço na imprensa e no debate público;
* vaidosos, não resistem ao assédio, falando o que lhes dá na telha;
* são gênios da tática e criaram
um test-drive para idéias em gestação, a fim de checar sua viabilidade.
O motivo pouco importa, porém.
Interessa que, tantas as declarações
e tantos os recuos, o mercado ficou
calejado. A especulação deixou de
se guiar pela Fazenda. Voluntária
ou não, essa é uma contribuição da
era Guido Mantega.
mfilho@folhasp.com.br
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