São Paulo, quinta-feira, 21 de maio de 2009

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Editoriais

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Mais uma do Itamaraty

É OBSCURA e desastrada a decisão do governo brasileiro de apoiar a candidatura do ministro da Cultura do Egito, Farouk Hosny, à direção geral da Unesco. As dúvidas que cercam o episódio não se restringem ao fato de um brasileiro, Márcio Barbosa, ter surgido como potencial candidato ao cargo, ele que há oito anos ocupa a função de adjunto de Koitchiro Matsuura, atual diretor daquela organização da ONU, voltada para a ciência, a cultura e a educação.
Há vozes de peso favoráveis a Barbosa, embora o Ministério das Relações Exteriores possa julgar que as credenciais do brasileiro e seu alcance político não bastem para justificar uma candidatura. Com base em tal convicção, o Itamaraty poderia escolher um caminho mais apropriado para os interesses do país.
O problema é que nada na candidatura de Hosny preenche esse requisito. Trata-se de personagem polêmico, acusado de antissemitismo. Em entrevista à Folha, relativizou suas declarações sobre queimar livros em hebraico -mas é forte a rejeição a seu nome na comunidade judaica, o que o faz um postulante por demais controvertido.
Nos últimos tempos, o governo brasileiro tem assumido posições injustificáveis. Recusou-se a condenar o odioso regime sudanês e foi pusilânime na hora de repudiar o lastimável discurso do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na recente Conferência contra o Racismo das Nações Unidas.
Uma hipótese para o apoio a Hosny seria obter votos para a indicação do chanceler Celso Amorim à Agência Internacional de Energia Atômica -ideia que para alguns analistas já teria perdido ímpeto. Diante de tanta incongruência, é preciso que as autoridades esclareçam, enfim, por que o Brasil deve endossar essa confusa candidatura egípcia.


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