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CLÓVIS ROSSI
O óbvio e a indigência
SÃO PAULO - É tão indigente o nível do debate público no Brasil que
um jornal do porte desta Folha se
vê compelido a dizer o que, em outro país, seria tratado como a quintessência do óbvio.
Refiro-me ao trecho do editorial
de ontem sobre a CPI da Petrobras
que afirma que "nenhuma empresa
que atue no Brasil, quanto menos
uma estatal da importância da Petrobras, está imune a investigação
parlamentar".
O inacreditável é que há um punhado de governistas, até com responsabilidades ministeriais, que
nega o óbvio e jura que investigar a
Petrobras é crime de lesa-pátria.
Se uma empresa, qualquer que
seja, não resiste a uma auditoria externa, como é uma CPI, é melhor
mesmo que feche, porque está escondendo algo de podre.
É óbvio que a oposição também
revela sua cota de indigência ao
empenhar-se em uma investigação
que não figura entre as 50 grandes
prioridades da pátria. Mas haveria
mil argumentos para contestar a
CPI sem cair na suposição de inimputabilidade da Petrobras.
Outro governista que revela pobreza incrível de argumentação é o
presidente do Senado, José Sarney,
na carta em que procura rebater a
irrebatível coluna de Luiz Fernando Vianna sobre o Maranhão. Diz
Sarney que "alguns índices sociais
[do Maranhão] são péssimos, mas
iguais ou melhores do que os de favelas em São Paulo e no Rio".
Meu Deus do céu, se tudo o que
há para festejar no reinado da família no Maranhão é a sua transformação em uma imensa favela, não é
melhor ficar quieto?
Note-se que é argumento de político com vastíssima quilometragem rodada e que já ocupou todos
os cargos eletivos relevantes no Estado e no país, além de escritor
guindado à Academia Brasileira de
Letras. Se esse é seu nível de argumentação, poupem-me das teses do
chamado baixo clero.
crossi@uol.com.br
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