São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Teste coreano

AS INTENÇÕES da Coréia do Norte são sempre inescrutáveis. É difícil saber se ela pretende mesmo testar seu novo míssil Taepodong-2, em tese capaz de carregar uma ogiva atômica até o Havaí ou o Alasca, ou se os preparativos detectados por satélites-espiões norte-americanos não passam de mais um na longa série de blefes nucleares do ditador Kim Jong Il.
Na mais benigna das hipóteses, Pyongyang encena um teste balístico para lembrar ao mundo que também é uma "ameaça atômica" e tentar arrancar vantagens, a exemplo do pacote de incentivos oferecido ao Irã pelas grandes potências em troca da suspensão de seu programa nuclear. A Coréia do Norte é o país mais pobre do sudeste asiático e precisa de toda ajuda econômica em que puder pôr as mãos.
É possível, porém, que Kim Jong Il esteja disposto a valorizar ainda mais sua condição de "ameaça". Poderia efetivamente lançar o Taepodong-2. Aí o jogo seria bem mais perigoso. Se a Coréia do Norte puder provar que domina a tecnologia de mísseis de longo alcance, muda a correlação de forças na região. Da Rússia à Austrália, passando pela periferia dos EUA, todos estariam sob a mira de um Estado paranóico e que alega já possuir ogivas nucleares (embora provavelmente ainda grandes demais para ser transportadas em míssil).
Os efeitos de um teste são potencialmente danosos, inclusive para a própria Coréia do Norte. O Japão poderia ver-se tentado a ampliar suas defesas militares, o que desagradaria à China, única aliada formal de Pyongyang. Na Coréia do Sul, os políticos que defendem entendimentos com o Norte se enfraqueceriam.
Para agravar um pouco mais as coisas, Kim Jong Il é um ditador particularmente imprevisível, o que torna incerta a sua disposição em aceitar compensações financeiras em troca de paz.


Texto Anterior: Editoriais: Brechas e distorções
Próximo Texto: Frankfurt - Clóvis Rossi: A hora do vira-lata
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.