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Teste coreano
AS INTENÇÕES da Coréia do
Norte são sempre inescrutáveis. É difícil saber se
ela pretende mesmo testar seu
novo míssil Taepodong-2, em tese capaz de carregar uma ogiva
atômica até o Havaí ou o Alasca,
ou se os preparativos detectados
por satélites-espiões norte-americanos não passam de mais um
na longa série de blefes nucleares do ditador Kim Jong Il.
Na mais benigna das hipóteses,
Pyongyang encena um teste balístico para lembrar ao mundo
que também é uma "ameaça atômica" e tentar arrancar vantagens, a exemplo do pacote de incentivos oferecido ao Irã pelas
grandes potências em troca da
suspensão de seu programa nuclear. A Coréia do Norte é o país
mais pobre do sudeste asiático e
precisa de toda ajuda econômica
em que puder pôr as mãos.
É possível, porém, que Kim
Jong Il esteja disposto a valorizar ainda mais sua condição de
"ameaça". Poderia efetivamente
lançar o Taepodong-2. Aí o jogo
seria bem mais perigoso. Se a Coréia do Norte puder provar que
domina a tecnologia de mísseis
de longo alcance, muda a correlação de forças na região. Da Rússia à Austrália, passando pela periferia dos EUA, todos estariam
sob a mira de um Estado paranóico e que alega já possuir ogivas nucleares (embora provavelmente ainda grandes demais para ser transportadas em míssil).
Os efeitos de um teste são potencialmente danosos, inclusive
para a própria Coréia do Norte. O
Japão poderia ver-se tentado a
ampliar suas defesas militares, o
que desagradaria à China, única
aliada formal de Pyongyang. Na
Coréia do Sul, os políticos que
defendem entendimentos com o
Norte se enfraqueceriam.
Para agravar um pouco mais as
coisas, Kim Jong Il é um ditador
particularmente imprevisível, o
que torna incerta a sua disposição em aceitar compensações financeiras em troca de paz.
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