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CLÓVIS ROSSI
A política acabou
POTSDAM - A política brasileira
tornou-se completamente não-funcional, inútil mesmo. Suspeito
que esse segredo de polichinelo não
seja mencionado em voz alta porque muita gente acha que o corolário é trágico: se os políticos (os
atuais, pelo menos) não servem para nada, então que venham de novo
os militares, certo?
Errado. Os militares já mostraram que, tanto ou mais que os civis,
são capazes de causar tamanha desfuncionalidade (para não falar em
democracia, direitos humanos etc)
que acabaram tendo de deixar o poder para não provocar maiores estragos.
A democracia -vá lá, repetir o
óbvio- ainda é o melhor dos modelos. Mas precisa funcionar.
O caso Renan Calheiros transformou-se na prova definitiva de que o
mundo político não está funcionando. Discute-se se Calheiros deve ficar ou sair. Mas a discussão é torta.
Nenhum senador pede a saída dele
por ser culpado. Nenhum senador
pede que fique por ser inocente.
Uns e outros pensam apenas na
conveniência do ficar ou do sair para seus próprios interesses e apetites, quase sempre subalternos,
quando não indecentes.
Vale o mesmo para a discussão
sobre voto em lista ou não. Os críticos passam a sensação de que mudar o sistema será um desastre, como se o modelo atual já não fosse
um tremendo desastre. O voto em
lista corrige o desastre? Não.
Então, que tal pensar em algo que
ao menos amenize o desastre?
A fuga ao debate dos grandes temas contaminou o mundo acadêmico e até o jornalismo. Aqui, longe
do país tropical, fala-se muito no
risco representado pelos fundos especulativos de investimento. Um
recente alerta está na capa de ontem do "Financial Times" e saiu da
boca de um banqueiro, o executivo-chefe da União de Bancos Suíços.
E os tupiniquins ficamos distraidamente discutindo uma figura tão
menor como Renan Calheiros.
crossi@uol.com.br
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