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EMÍLIO ODEBRECHT
Agricultura dependente
O BRASIL tem um dos mais
sofisticados setores agrícolas do mundo. Alguns dados
mostram isso bem.
Somos o primeiro produtor
mundial de açúcar, café e suco de
laranja, o segundo produtor de soja, o terceiro de milho e o maior exportador de vários itens: os já citados açúcar, café, suco de laranja e
soja, além de tabaco e etanol.
Boas terras, clima favorável,
muita água e domínio da tecnologia para o cultivo nos trópicos são
nossos trunfos em um planeta que,
até 2050, terá de dobrar a produção de alimentos para sustentar 9
bilhões de pessoas, segundo projeção da ONU.
Mas o setor agrícola nacional, este gigante, sofre com um calcanhar
de aquiles: a insuficiente produção
de fertilizantes. Espanta-me o
quão pouco isso é debatido, mesmo
em nossa mídia especializada.
O Brasil importa em torno de
91% do cloreto de potássio que precisa para suas lavouras, a quase totalidade do fosfato, 87% do sulfato
de amônia, 70% da ureia, 70% do
nitrato de amônia e a totalidade do
enxofre. São itens vitais e, safra
após safra, temos de adquiri-los lá
fora, porque no mundo somos o
terceiro maior importador e donos
de apenas 2% da produção.
Além de ficarmos dependentes
dos fornecedores internacionais,
pagamos caro por tais insumos,
pois ou os compramos pelo preço
que pedem ou não se planta no
país.
Há soluções. Uma delas: explorar as jazidas de minerais fertilizantes existentes no Brasil. Sim,
pois, estranhamente, muitas estão
intocadas.
Exemplo: já se sabe que temos a
terceira maior reserva de potássio
do planeta, atrás apenas das do Canadá e da Rússia. O minério está
principalmente em um grande veio
na Amazônia. Deveria ser extraído,
sempre com respeito pelo meio
ambiente e pelos habitantes da
região.
Outra medida seria fabricar aqui
os chamados fertilizantes nitrogenados, cuja importação tanto onera nossas divisas. Eles são feitos essencialmente de gás natural, matéria-prima de que dispomos. A Braskem, empresa que integra a Organização Odebrecht, desenvolve estudos sobre o tema.
E por que não investir em fertilizantes orgânicos, feitos a partir da
compostagem de resíduos industriais e domésticos? Isso também
ajudaria na redução do lixo urbano,
que se torna cada vez mais um problema para as nossas cidades.
As últimas previsões são de que a
safra nacional de 2008/2009 atingirá mais de 137 milhões de toneladas de grãos, a segunda maior da
história.
Não parece estranho que o Brasil
tenha que conviver com o risco de
limitar o crescimento agrícola à capacidade internacional de atender
nossa demanda por fertilizantes?
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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