São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Dissimulação nota 10

SÃO PAULO - "Posso dizer a vocês que eu dou 10, pelo nosso esforço, pela vontade de acertar, pela seriedade dos secretários, pelos exemplos que damos." Substituindo-se "secretários" por "jogadores", seria possível atribuir essas palavras a um dos nossos craques de futebol, numa dessas entrevistas típicas à beira do campo, após a partida.
O jogador, no caso, é Gilberto Kassab, raposa dos gramados políticos. Estava na sabatina promovida ontem pela Folha e respondia à questão: "Que nota o senhor dá para a sua administração, e por quê?". Impressionou, sobretudo, sua capacidade de falar durante duas horas sem dizer praticamente nada.
Todo político é dissimulado. O prefeito levou essa regra ao paroxismo. Do início ao fim, como um ventríloquo de si mesmo, esteve determinado a reagir de forma impassível às críticas à sua administração, que foram muitas, e de não externar aquilo que deveras sente em relação aos seus desafetos no DEM ou no PSDB de Geraldo Alckmin.
De Dilma a Maluf, Kassab não descartou apoiar ou receber o apoio de ninguém. A performance ladina e a orientação pragmática são uma caricatura da política brasileira, tão bem representada pelo PSD.
O prefeito Kassab já estava em descrédito havia algum tempo, mas o político até outro dia ainda parecia capaz de aglutinar várias forças em torno de si em seu novo partido.
Essa capacidade foi posta agora em dúvida por uma conjunção de fatores: está mais do que caracterizado o uso da máquina na coleta de assinaturas necessárias à criação da legenda; o DEM parece disposto a esgotar todos os recursos legais para melar o jogo de Kassab; Palocci, que era seu grande aliado no governo federal, caiu, com a suspeita adicional de que a Prefeitura de SP vazou os dados de sua empresa.
Como é um partido sem ideais, que se destina apenas a atender as conveniências pessoais de seus membros, um partido que não dissimula seus interesses, o PSD pode nascer bem menor do que parecia.


Texto Anterior: Editoriais: Saúde como prioridade

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Não fosse a imprensa...
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.