São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

O nó da questão

RIO DE JANEIRO - Considero um saco abordar assunto que é comentado por toda a mídia. Talvez seja uma expressão do espírito de porco do qual a natureza me dotou, desde o berço distante até o túmulo próximo. Mas vamos lá.
No momento, discute-se em vários níveis a questão do sigilo ou do segredo de documentos oficiais ou oficiosos. Como bem lembrou a Eliane Cantanhêde, há coisas do arco da velha na anexação do Acre e na Guerra do Paraguai que podem comprometer a glória de alguns vultos do panteão nacional, como o barão do Rio Branco e o duque de Caxias. Não são temas da atualidade, mas de interesse dos historiadores profissionais e pesquisadores especializados.
O clamor da sociedade neste início de século, o nó da questão é contra o sigilo (ou o segredo) dos documentos relativos aos anos de repressão do regime militar (1964-85), dos quais a nação não tem conhecimento. Há pouco, tivemos uma polêmica entre o Persio Arida e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro revelando as torturas que sofreu, o segundo negando-as. Esta é uma questão que não diz respeito apenas aos dois, mas a todos os que precisam conhecer como as coisas se passavam entre nós, contemporâneos. Uma questão que servirá de exemplo e advertência aos nossos descendentes.
Bem ou mal, a anistia que tivemos foi um acordo que possibilitou o fim da ditadura e o regime democrático em que vivemos. Não entrou em jogo a punição de culpados que hoje é reclamada por diversos escalões da vida pública. Mas há a necessidade de todos conhecermos o que realmente se passava nos chamados "porões da ditadura".
JK reclamava que os diversos inquéritos e depoimentos prestados por ele às autoridades militares não fossem divulgados. No mesmo caso estão milhares de brasileiros que sofreram e morreram nas mãos de assassinos e torturadores.


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