São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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Editoriais

Ainda os alimentos

Alta de preços agrícolas no mundo não dá mostras de arrefecer e exige vigilância crescente da política monetária

ENTRE MEADOS de julho de 2007 e julho de 2008, as cotações dos produtos agrícolas, minerais e energéticos subiram em média 44% no planeta. Entre os alimentos, a maior alta coube ao milho, 108%. As menores, ao suco de laranja -estagnado - e carnes suínas, apenas 1%. Em um dos extremos desse amplo intervalo, encontram-se a cotação da soja, com alta de 91%; do arroz, com variação de 76%. Na outra extremidade, carnes bovinas, com valorização de 8%; algodão, 10%; café, 27%; trigo, 37%.
A despeito de comportamentos tão heterogêneos, as altas têm se propagado. Segundo o FMI, a inflação global dos alimentos quase dobrou em 2007. Enquanto nos países industrializados alcançou 3%, em países em desenvolvimento chegou a 10%. Entre esses últimos, a inflação de alimentos atinge mais fortemente as populações mais pobres e urbanas. Nesse cenário, as nações mais vulneráveis são as dependentes de importações de alimentos e com elevada incidência de miséria urbana.
O ciclo de alta nos preços dos alimentos ainda não dá nenhum sinal seguro de arrefecimento. Espera-se que a alta fomente o crescimento da produção, mas isso leva tempo, por depender de ciclos de plantio e colheita. Como os estoques públicos atuais persistem relativamente baixos, as cotações ainda podem sofrer algumas oscilações abruptas.
A esse respeito, uma proposta interessante que tem surgido seria montar uma espécie de fundo mundial com os estoques públicos das principais nações produtoras. Ele funcionaria para direcionar alimento guardado em países que não sofrem crise de abastecimento para nações em emergência alimentar. Mas essa é uma solução para médio e longo prazo. Se os países começarem a comprar mais comida agora para elevar estoques, só vão pressionar ainda mais os preços.
Por falar em preços, nos EUA o índice ao consumidor acumulado em 12 meses apresentou alta de 4,2% em junho. Os alimentos subiram 5,2%. Na área do euro, a inflação do consumo projeta alta de 4% em junho, com destaques para a comida, que subiu 6,4%. No âmbito doméstico, mais um indicador revelou mesma tendência. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o IGP-10 subiu 2% em julho, acumulando 14,72% em um ano. Mais uma vez a alta de itens como soja, milho e carne no atacado foi determinante.
Sem um auxílio mais vigoroso da política fiscal, que seria muito bem-vindo neste momento, o Banco Central brasileiro vai continuar elevando os juros básicos. É preciso monitorar a conjuntura com muita atenção, contudo, pois a hipótese de uma reversão abrupta de tendências, com deflação em energia e alimentos logo à frente, não está descartada.


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