São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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Jovens velhos

Eleição direta para a presidência da UNE poderia rejuvenescer entidade aparelhada por facções políticas

DIRETAS-JÁ : a palavra de ordem conta a esta altura com 25 anos de existência. Guarda consigo o sabor de um tempo em que as reivindicações da sociedade, ainda que provisoriamente negadas, não desaguavam em desesperança e ceticismo.
O lema ressurgiu estampado na camiseta de Augusto Chagas, aluno da USP, entrevistado pela Folha na edição de ontem. Com 27 anos de idade, o líder universitário -que acaba de ser eleito presidente da União Nacional dos Estudantes- sem dúvida não terá lembranças do processo de redemocratização do país.
Não carece, todavia, de combatividade de espírito. Quer uma reforma universitária e a regulamentação da meia-entrada.
Filiado ao PC do B, partido que controla a entidade há 18 anos, Chagas foi eleito por 2.809 votos, num congresso que supostamente representaria 5 milhões de universitários.
A incoerência da situação é reconhecida pelo líder estudantil. Viria em boa hora, por certo, a adoção do voto direto para a presidência da UNE.
Mesmo no período anterior à ditadura, a entidade servia mais aos interesses dos partidos de esquerda do que à vaga maioria dos estudantes que estava encarregada de representar.
Reconheça-se, entretanto, que os tempos eram outros: os universitários brasileiros em 1964 faziam parte de uma elite. Hoje, entre os 5 milhões de estudantes que frequentam faculdades em todo o país, não será exagero intuir que um projeto particular de ascensão social predomine, comparado às mobilizações cívicas de antigamente.
Com isso, a UNE se isola do ponto de vista político. De modo semelhante, também se isolam politicamente aqueles cidadãos que se indignam diante dos desmandos do Congresso e do Executivo. É como se a grande maioria dos brasileiros se voltasse para si mesma, para a esfera de seus interesses privados, de suas prioridades pessoais.
Bom sinal: eis que cada indivíduo se mostra menos dependente das chuvas e trovoadas que lhe adviriam de um governo errático e convulso. Mau sinal, contudo, à medida que a indiferença prática dos cidadãos termina por autorizar, implicitamente, o aparelhamento do Estado.
Máquinas políticas, pouco importa se de direita ou de esquerda, apropriam-se da burocracia governamental para cuidar de seus negócios. A UNE, a Petrobras, as centrais sindicais -ícones dos movimentos coletivos pré-64- hoje se resumem, tristemente, ao que na verdade foram desde sempre: aparelhos a serviço de facções organizadas.
Mas o contexto não é o mesmo. As ideologias de 40 anos atrás refletiam, bem ou mal, as aspirações de uma classe média em conflito com um país atrasado, agrário e bacharelesco.
Hoje, o atraso mudou de nome, endereço e classe social. A UNE se preocupa com carteirinhas e com a participação do capital estrangeiro nas universidades privadas. No país de Sarney e de Lula, a liderança estudantil poderia ser um pouco menos velha do que isso. Ao menos para variar.


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