São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Krugman e nós

SÃO PAULO - "Os Estados Unidos do pós-guerra eram, sobretudo, uma sociedade de classe média. O grande boom dos salários que começou a com a Segunda Guerra levou dezenas de milhões de americanos -entre quais meus pais- de bairros miseráveis nas regiões urbanas ou da pobreza rural à casa própria e a uma vida de conforto sem precedentes".
São frases iniciais do grande livro de Paul Krugman, "A Consciência de um Liberal" (Record), de 2007, que acaba de sair no Brasil. Havia, diz ele, "uma sensação admirável de uma comunidade econômica: a maioria das pessoas nos EUA levava uma vida material reconhecidamente decente e similar".
Essa "middle-class society" que encarnava o sonho americano não foi obra de uma "evolução gradual", mas, diz Krugman, "muito pelo contrário, foi criada, no curto espaço de alguns anos, pelas políticas do governo Roosevelt".
A partir dos anos 1980, de Ronald Reagan e da guinada à direita na política americana, os EUA conhecem um período de "aumento abrupto da desigualdade", que Krugman atribui menos aos efeitos da globalização e do avanço tecnológico e mais à "erosão das normas e instituições sociais que costumavam fomentar a igualdade" -ou seja, ao fim da herança do New Deal. Ele escreve antes da vitória de Obama, em 2008, e sua questão é o aumento da desigualdade nos EUA.
Tudo isso nos fala à imaginação -tão longe, tão perto. A desigualdade está diminuindo no Brasil. O economista Marcelo Neri, da FGV, diz que, entre 2003 e 2008, a pobreza caiu 43% e 32 milhões de pessoas alcançaram as classes ABC. Apesar disso, estamos muito longe de ser um país no qual "a maioria das pessoas leva uma vida material decente e similar". Não sabemos ainda o que é nossa "nova classe média". E, salvo engano, subestimamos os efeitos do estrago social acumulado por décadas, tão visível na educação, na imensa periferia de São Paulo, nos morros cariocas etc. etc.


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