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JOÃO SAYAD
Festas brasileiras
TODOS OS ANOS , o Carnaval é a
mesma coisa. Mudam as cores das plumas, os sambas-enredo são diferentes, mas é a mesma coisa. Em junho, as festas caipiras. Homens com bigodes pintados
a carvão, meninas com tranças e laços de fita, "padre", quadrilha e casamento.
Há muito tempo, iguais.
Difícil interpretar o significado
dessas festas. No caso do Carnaval,
uma catarse coletiva com data
marcada. Nas festas caipiras, homenagem a santo Antônio, que
pregava para os peixes, a são João e
a são Pedro. Antigamente, era a revista "Manchete" que publicava as
fotos dos concursos de fantasia no
Teatro Municipal do Rio. Asas,
paetês, caudas imensas e os mesmos comentários-fantasias caríssimas, trabalho de ano inteiro etc.
Hoje, Carnaval e festas juninas
saem na "Caras" e em jornais que
ninguém lê no Carnaval. São fotos
de caipiras sorridentes, de calça remendada e camisa xadrez (mais
"country" do que caipira). Nas fotos carnavalescas, sorrisos debochados ou provocantes. Difícil saber do que estão rindo. O sentido
de uma festa é a própria festa. Não
adianta procurar por mais nada.
A propaganda eleitoral que começou na semana passada virou
uma festa brasileira. Brasileiros
brancos, negros, evangélicos, ex-funcionários públicos, aposentados, políticos desde sempre, gordos
e magros, com barba ou sem ela, caras comuns ou surpreendentes,
surgem na televisão, falando as
mesmas coisas. Sou o candidato do
desenvolvimento, da saúde, da
educação, do combate à corrupção,
da mudança. Não esqueça, vote no
45, no 13, no 70. Vote no 2512, dia
do Natal, fácil de lembrar.
Falam depressa, olhar fixo no
"prompter", como artistas amadores, representando um personagem difícil e que não conhecem.
Depois vêm os filmes -campos de
soja com imensas colheitadeiras,
fábricas modernas, favelados agradecidos, operários de uniforme,
agricultores sorridentes, estradas
bem pavimentadas, acompanhados por jingles em ritmo de samba
ou de baião.
Desta vez, poucos candidatos
professores universitários. Nenhum padre, nenhum intelectual.
Números diferentes e discursos
iguais.
Os programas eleitorais nos enchem de ternura igual à que sentimos quando pegamos a roupa de
um filho jogada no chão, o cigarro
do pai no cinzeiro, a bolsa da mulher cheia de coisas inúteis. Parecem coisas vivas, a presença concreta da pessoa querida através de
seus pequenos defeitos. No horário
eleitoral, o Brasil em pessoa, sonhando com as mesmas coisas de
sempre, entra na sala pela televisão
como uma porta-bandeira rebolando ou um Jeca Tatu de camisa
xadrez.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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