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CLÓVIS ROSSI
Do orgulho à vergonha
SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 1989, esta Folha recebeu em almoço todos os principais candidatos. Menos, salvo erro
de memória, Fernando Collor, no
que se revelaria uma profilática
premonição do jornal.
Quando já terminava o almoço
com Luiz Inácio Lula da Silva, o
candidato do PT pousou o braço sobre os ombros de Octavio Frias de
Oliveira, o "publisher", morto em
2007, e disse: "Frias, você ainda vai
se orgulhar desse petezinho", como
se o anfitrião fosse PT desde
criancinha. Não era, claro, mas nunca escondeu seu respeito pelo que considerava padrão ético do partido.
Vinte anos depois, a profecia de
Lula revela-se tão falsa como era
equivocada a crença do "publisher"
desta Folha. Hoje, até um petista
como o senador Flávio Arns diz
sentir "vergonha", não orgulho,
desse "petezinho".
Aliás, "petezinho" é expressão
adequada, pelo nanismo ético e
moral de sua camada dirigente, que
deve ter contaminado boa parte da
militância, talvez toda ela, a julgar
pelo silêncio ensurdecedor a respeito do espetáculo de pouca vergonha que marca o PT.
De quebra, ainda há o nanismo
intelectual dos acadêmicos petistas, incapazes de abrir a boca, embora um deles tenha escrito, na esteira do "mensalão", que não mais
admitiria nem sequer o sumiço de
um alfinete do Palácio do Planalto.
Nada disso, no entanto, surpreende. Os intelectuais petistas se
masturbaram com a debiloide teoria da conspiração para explicar os
pecados do partido, mesmo ante a
contundente evidência de que a
única conspiração era a dos fatos.
O que na verdade surpreende é a
surpresa do senador Arns. Deveria
ter sentido "vergonha" quando a direção do seu PT foi chamada de
"organização criminosa" pelo então procurador-geral da República.
Tudo o que veio depois é até
café com leite.
crossi@uol.com.br
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