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FERNANDO GABEIRA
A paz dos cemitérios
RIO DE JANEIRO - O verbo normalizar, usado por Sarney para descrever o que acontece no Senado, é
muito significativo. Todos esperavam por outro verbo: moralizar. A
normalização para um senador que
deixa seu partido porque a bandeira
da ética foi jogada na lata de lixo representa o horror que precisa ser
enfrentado, inclusive com o risco
de perder o mandato.
Numa hora dessas, é possível
pensar em duas direções: a eleitoral
e a outra, do interesse do país. Na
primeira, a instituição putrefata vai
exalar seu horrível fedor sobre as
forças que mantiveram Sarney. O
preço ainda será pago.
Mas, para o interesse nacional,
era preciso resolver a situação rapidamente, sem considerar as eleições. Num movimento interno, isso
não foi possível.
Sempre disse que não bastava a
opinião pública e a pressão da imprensa. É preciso fazer algo articulado, no interior do próprio Senado.
Desde menino também, quando
lutava contra o aumento do preço
dos bondes, constatei que, infelizmente, um argumento apressa
todos os processos: o cheiro de
fumaça.
É o tipo do argumento que hoje
em dia combato. É preciso algo não
violento. E creio que a resistência
pacífica deveria ser reservada para
todos os senadores que se apresentarem na campanha de 2010. Nem
todos tiveram o mesmo comportamento. Mas todos terão de explicar
o que fizeram durante essa crise.
Os estrategistas convencionais
acham que tudo voltará ao normal,
que as pessoas vão esquecer. Não
percebem que o mau cheiro vai envolver também sua campanha presidencial. Estão sentados em cima
de um cadáver, uma instituição
morta, com um Conselho de Ética
dominado por cafajestes.
Mesmo sem cheiro de fumaça,
tão eficaz no passado, o país achará
uma forma de punir os coveiros da
credibilidade política.
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