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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

De Brasília para o mundo

BRASÍLIA - Depois de o Brasil condenar a invasão do Iraque, chefiar o G-21 contra os países ricos e assumir a liderança da América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está obrigado a fazer um discurso à altura na abertura da Assembléia Geral da ONU, terça-feira, em Nova York.
Nesse ajuste da ação ao discurso, ou do gesto à palavra, espera-se que o líder Lula diga poucas e boas àquela gente do Primeiro Mundo que ainda considera o Brasil um "paisinho" cheio de mendigos e bananas.
Diga, por exemplo, que não se pode apoiar uma Alca mantendo o desequilíbrio dos Estados Unidos em relação ao resto do continente; que não é possível negociar nada com esses subsídios agrícolas americanos e europeus; que faltam salvaguardas para os pobres no sistema financeiro; e que o multilateralismo tem que vencer o unilateralismo -o bem sempre vence o mal, não é mesmo?
Se sabe o que quer e sabe o que vai dizer, Lula poderá esbarrar em dificuldades técnicas. Só terá 15 minutos, sem direito a improviso. Terá de se limitar ao texto escrito e, se falar sobre jabuticabas e periquitos, ninguém vai traduzir nem entender nada.
Enfrentará, ainda, alguns obstáculos políticos. O principal é manter o tom contra os ricos sem parecer antiamericanismo. O segundo é defender os pobres sem atacar os ricos mais do que o prudente -para não afugentar mercados e investidores.
De Nova York, Lula fará mais uma viagem insossa ao México e seguirá para uma viagem, essa sim caliente, para a Havana do amigão Fidel Castro. Aí a questão é inversamente proporcional à do discurso na ONU.
Em vez de ler um discurso de 15 minutos previamente escrito, Lula poderá ouvir um de horas e horas feito de improviso por Fidel -evidentemente, contra Bush e os EUA. Além disso, seu problema vai ser não frustrar a expectativa: a platéia vai querer sangue contra os americanos.
Líder que é líder assume riscos, não fica em cima do muro. E é justamente aí que mora o perigo de Lula numa viagem que começa nos EUA de Bush e acaba na Cuba de Fidel.



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