São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Golpe na Tailândia

NÃO É propriamente uma surpresa o golpe de Estado na Tailândia. Rumores de que os militares poderiam tentar destituir o premiê Thaksin Shinawatra rondavam Bancoc havia meses. O próprio general Sondhi Boonyaratkalin, mentor da aventura, chegou a "desmentir" alguns dos boatos.
Thaksin, eleito em 2001, fez um governo controverso. Tem prestígio nas camadas populares, mas desagradou às elites urbanas. É acusado de favorecer amigos e seus próprios negócios, que incluem um império no setor de telecomunicações.
O "erro" do premiê, que parece ter irritado a cúpula militar, precipitando a crise, foi tentar aumentar sua influência nas Forças Armadas promovendo jovens oficiais amigos seus. Enquanto Thaksin estava em Nova York se preparando para discursar na Assembléia Geral das Nações Unidas, tanques tomavam posições estratégicas em Bancoc.
A partir daí o golpe seguiu a receita clássica: a Constituição foi suspensa, colaboradores do premiê, detidos, e manifestações, proibidas. Como é de praxe na Tailândia, os golpistas logo correram ao rei Bhumibol para pleitear sua bênção. O general Sondhi prometeu entregar o poder aos civis "logo que possível". Antes, deverá conceder ao país uma nova Carta. A única boa notícia é que, ao menos por ora, não houve derramamento de sangue.
É lamentável constatar que depois de um hiato de 15 anos, no qual a democracia parecia finalmente ter-se fixado nas terras do Sião, o país volta a experimentar as desventuras de um golpe de Estado. Se Thaksin de fato mostrou-se indigno do cargo, deveria ser retirado do posto pelo voto ou pelas instituições, não pela ambição de um general.


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