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CLÓVIS ROSSI
Ausências que preenchem lacunas
SÃO PAULO - A Bélgica está sem
governo há uns quatro meses. Divergências entre os partidos da
francófona Valônia e da flamenga
Flandres. Por "sem governo" entenda-se a superestrutura política,
o gabinete. O resto funciona.
Os policiais policiam, os impostos são cobrados (ou sonegados) como de costume, os trens chegam e
saem mais ou menos no horário, o
metrô roda placidamente, tão placidamente que nem catracas tem,
continuam à venda em cada esquina os imperdíveis "gaufres" ("waffels", feitos na hora, até fumegam à
primeira mordida).
Imagine situação similar no Brasil (calma, "zelites", não estou falando do atual governo, mas de
qualquer governo).
Digamos que o ministro da Fazenda saia e não seja designado
substituto. Caem os juros? Depende do Banco Central, que já mostrou que não dá a menor bola nem
para o presidente, quanto mais para
um subordinado como o ministro.
E as exportações, aumentam ou
diminuem? Vale lembrar o óbvio:
governos não exportam; empresas
exportam. Logo...
Digamos ainda que o ministro da
Saúde tire férias de uns três anos.
Aumenta o número de mosquitos
da dengue? Não depende dele, diz a
propaganda do próprio governo,
mas de todos nós. Logo...
Sai o ministro de Minas e Energia. Ah, já saiu faz tempo e não foi
substituído? Então, deixa pra lá.
Sem governo, o Corinthians sai
da zona de rebaixamento? Depende
do Lulinha, não do Lula (Lulinha o
jogador, não o filho do presidente).
Ah, tem um quesito em que o governo é de fato decisivo: sem governo, o senador Renan Calheiros teria
sido cassado.
Se é assim, um brinde para a Bélgica, até porque, com ou sem governo, continua fabricando e vendendo 717 marcas de cerveja. Mas beba
com moderação que amanhã é segunda, tem governo, tem dengue e
tem juros.
crossi@uol.com.br
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