São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Culpas e responsabilidades

BRASÍLIA - Nestes tempos em que os feudos do PC do B no Esporte e do PR nos Transportes nivelam por baixo a esquerda, a direita e a política, Muammar Gaddafi comporta boas reflexões. De jovem revolucionário que livrou a Líbia de uma monarquia obsoleta em nome da independência e da liberdade, Gaddafi se transformou num ditador sanguinário, corrupto e, enfim, patético.
Sua morte, mostrada ao mundo por imagens chocantes, encerra uma etapa de horrores e abre uma outra de incertezas e medos. Passada a justa festa dos revoltosos, vem aí a reconstrução de um país que é rico -diferentemente do pobre Egito e da remediada Tunísia, por exemplo-, mas tem tribos de mais e quadros técnicos e burocracia estatal de menos. O Estado era Gaddafi.
É preciso criar um Parlamento, definir uma Constituição consensual e eleger um presidente, enquanto é construída e reconstruída a infraestrutura, retomada a produção de petróleo, recuperada a normalidade das cidades, repactuadas as parcerias com o mundo.
Com petróleo e gás, a Líbia tem muito dinheiro, algo como US$ 70 bilhões antes da guerra, mas não tem onde e como investir. Por isso se tornou uma excelente oportunidade de negócios, o parceiro cobiçado por países ricos e emergentes, que fecharam os olhos para as barbaridades do déspota e o sofrimento do povo.
Bush, Obama, Sarkozy, Tony Blair, Berlusconi, Schroeder, assim como Lula, fizeram fila para confraternizar com Gaddafi e disputar os dólares líbios. A Turquia, a Rússia, a China e a Índia foram atrás. Todos alimentaram o regime de Gaddafi e têm agora responsabilidade com o futuro de uma Líbia destroçada.
E onde está o dinheiro líbio? Pulverizado entre paraísos fiscais, países-sócios, empresas amigas e, claro, os colchões da família Gaddafi.
Derrotar Gaddafi foi histórico, glorioso, mas a guerra do povo líbio continua. Aliás, está apenas começando.

elianec@uol.com.br



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