São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

O todo-poderoso

BRASÍLIA - Lula deixou o PT para trás, deve comemorar amanhã a proeza de unir a maioria do PMDB em torno dele, confraterniza no Aerolula com o tucano Arthur Virgílio (que já ameaçou "dar uma surra" no presidente) e está matutando uma reunião com todos os ex-presidentes -incluindo Collor.
Há 21 anos, Aureliano Chaves engoliu suas divergências históricas em Minas, Ulysses Guimarães deixou de lado a competição e o ciúme no PMDB e estavam lá com FHC, Covas, Bornhausen, Roberto Freire, em torno de Tancredo Neves. E onde estava o PT? Não estava pensando "no país", como Lula pede agora, mas fazendo o cálculo político: o que era melhor para o projeto de poder deles próprios?
O PT e Lula negaram o voto em Tancredo, criticaram duramente o caótico governo Sarney, lideraram CPIs e jornalistas para derrubar Collor, passaram 8 anos num esforço diário para transformar o governo FHC no mais corrupto de todas as galáxias. Foi assim que Lula se elegeu sob a bandeira da ética e o compromisso da mudança.
O que se viu? A ética era "igual à de todo mundo" e nada mudou, a começar da política econômica que o PT tanto condenava. Quando algo vai mal, é a "herança maldita". Quando estoura um escândalo, é "armação da imprensa e das elites".
Quando escândalos deixam de ser exceção e viram regra, é porque "todo mundo faz". Cristovam Buarque registra: "Tudo que é bom foi Lula quem fez, tudo que é errado a culpa é dos outros".
Uma reunião do atual com os ex-presidentes será engraçada: Sarney odeia Collor, que odeia Itamar, que odeia FHC. E todos fazendo figuração para Lula, o imperador. Sarney aderiu faz tempo, mas Collor, Itamar e FHC só aceitam encenar a coroação de Lula se tiverem uma grandeza pessoal extraordinária. Ou estômago de avestruz.

elianec@uol.com.br


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