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ELIANE CANTANHÊDE
O todo-poderoso
BRASÍLIA - Lula deixou o PT para
trás, deve comemorar amanhã a
proeza de unir a maioria do PMDB
em torno dele, confraterniza no Aerolula com o tucano Arthur Virgílio
(que já ameaçou "dar uma surra" no
presidente) e está matutando uma
reunião com todos os ex-presidentes -incluindo Collor.
Há 21 anos, Aureliano Chaves engoliu suas divergências históricas
em Minas, Ulysses Guimarães deixou de lado a competição e o ciúme
no PMDB e estavam lá com FHC,
Covas, Bornhausen, Roberto Freire, em torno de Tancredo Neves.
E onde estava o PT? Não estava
pensando "no país", como Lula pede agora, mas fazendo o cálculo político: o que era melhor para o projeto de poder deles próprios?
O PT e Lula negaram o voto em
Tancredo, criticaram duramente o
caótico governo Sarney, lideraram
CPIs e jornalistas para derrubar
Collor, passaram 8 anos num esforço diário para transformar o governo FHC no mais corrupto de todas
as galáxias. Foi assim que Lula se
elegeu sob a bandeira da ética e o
compromisso da mudança.
O que se viu? A ética era "igual à
de todo mundo" e nada mudou, a
começar da política econômica que
o PT tanto condenava. Quando algo
vai mal, é a "herança maldita".
Quando estoura um escândalo, é
"armação da imprensa e das elites".
Quando escândalos deixam de ser
exceção e viram regra, é porque "todo mundo faz". Cristovam Buarque
registra: "Tudo que é bom foi Lula
quem fez, tudo que é errado a culpa
é dos outros".
Uma reunião do atual com os ex-presidentes será engraçada: Sarney
odeia Collor, que odeia Itamar, que
odeia FHC. E todos fazendo figuração para Lula, o imperador.
Sarney aderiu faz tempo, mas
Collor, Itamar e FHC só aceitam
encenar a coroação de Lula se tiverem uma grandeza pessoal extraordinária. Ou estômago de avestruz.
elianec@uol.com.br
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