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CLÓVIS ROSSI
Prefiro os piratas da Somália
SÃO PAULO - Deu no "Wall Street
Journal", que não é exatamente um
jornal antimercado ou nada que se
pareça com isso: durante o período
em que se gestou a crise que está
pondo o mundo de joelhos, 15 executivos de grandes firmas financeiras e construtoras ganharam, cada
um, mais de US$ 100 milhões (R$
240 milhões, o suficiente para comprar, digamos, 34 jatinhos LearJet,
versão mais luxuosa, para citar um
exemplo que essa gente certamente
entende).
Acrescenta o "Journal": "Quatro
desses executivos, incluídos os presidentes de Lehman Brothers e
Bear Stearns, estiveram no comando de companhias que foram à bancarrota ou viram cair 90% o valor
das ações [dessas empresas]".
É bom lembrar que o derretimento da Bolsa de Valores nos Estados Unidos levou os detentores
de ações a perderem montantes
inacreditáveis. Para o "Journal", foram US$ 9 trilhões, para o editorial
desta Folha de ontem, um pouco
menos (US$ 7 trilhões) -em todo o
caso, perdas que equivalem a sete,
oito ou nove "brasis", dependendo
do número que se aceitar como
mais próximo da realidade.
O "Journal" fuçou as declarações
financeiras de 120 companhias de
capital aberto em setores como a
banca, financiamento de hipotecas,
empréstimos para estudantes, corretagem de bolsa e construção -ou
seja, aqueles que estão no epicentro
do terremoto.
A análise mostrou que "os principais executivos e os membros das
diretorias dessas firmas embolsaram mais de US$ 21 bilhões durante os últimos cinco anos", os anos
em que inflou a bolha que explodiu.
Depois ainda tem gente que se
opõe a uma regulação e supervisão
mais rígidas no setor financeiro,
alegando que podem estrangular a
criatividade.
Se se trata da criatividade apontada pelo "Journal", que estrangulem. Os piratas da Somália parecem
gente fina perto deles.
crossi@uol.com.br
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