São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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FERNANDO GABEIRA

Nuvens no horizonte

RIO DE JANEIRO - Brasília tem o maior PIB per capita do Brasil. Um dos problemas desse índice, o PIB: mascara o que é produção ou consumo. Se os salários do poder aumentam, aumenta o PIB. Mesmo deixando salários de lado, existe uma pergunta antipática na capital: como gastamos o dinheiro?
A crise econômica ainda é apenas uma discreta referência nos discursos. Ninguém se dispõe a pegar o touro a unha. Parece que na nossa cultura é melhor ser atropelado do que se antecipar criativamente.
Reduzir os gastos implica reativar aquela velha discussão sobre o tamanho do Estado. Nunca se chega a um acordo. O ideal seria construir uma ponte entre as posições divergentes, definir um índice de eficácia, de custo-benefício para o dinheiro público.
Por que não informatizar a administração? Reduz os gastos, aumenta a democracia. Por que gastar quase um bilhão com viagens se podemos realizar, de várias formas, conferências a distância?
Sempre acusamos os políticos de deitarem e rolarem com o dinheiro público. Com exceção de alguns empresários, que conhecem administração, o grito popular contra o desperdício inexiste.
Os executivos das montadoras foram pedir ajuda ao Congresso americano em jatinhos particulares. Foram repreendidos por gastarem US$ 20 mil numa simples viagem.
Com essas nuvens no horizonte, o Brasil tem uma grande chance de dar uma mexida geral. Os governos do país e de São Paulo destinam bilhões para a indústria de carros sem nenhuma contrapartida. Nem Serra, nem Lula, nem Dilma parecem acreditar na variável ambiental. Outros líderes vêem nela uma chance para a economia no buraco.
Não podemos culpar apenas os políticos pela calma bovina diante da tempestade. Novas respostas para novas situações nem sempre nos animam.


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