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FERNANDO GABEIRA
Nuvens no horizonte
RIO DE JANEIRO - Brasília tem o
maior PIB per capita do Brasil. Um
dos problemas desse índice, o PIB:
mascara o que é produção ou consumo. Se os salários do poder aumentam, aumenta o PIB. Mesmo
deixando salários de lado, existe
uma pergunta antipática na capital:
como gastamos o dinheiro?
A crise econômica ainda é apenas
uma discreta referência nos discursos. Ninguém se dispõe a pegar o
touro a unha. Parece que na nossa
cultura é melhor ser atropelado do
que se antecipar criativamente.
Reduzir os gastos implica reativar aquela velha discussão sobre o
tamanho do Estado. Nunca se chega a um acordo. O ideal seria construir uma ponte entre as posições
divergentes, definir um índice de
eficácia, de custo-benefício para o
dinheiro público.
Por que não informatizar a administração? Reduz os gastos, aumenta a democracia. Por que gastar
quase um bilhão com viagens se podemos realizar, de várias formas,
conferências a distância?
Sempre acusamos os políticos de
deitarem e rolarem com o dinheiro
público. Com exceção de alguns
empresários, que conhecem administração, o grito popular contra o
desperdício inexiste.
Os executivos das montadoras foram pedir ajuda ao Congresso americano em jatinhos particulares.
Foram repreendidos por gastarem
US$ 20 mil numa simples viagem.
Com essas nuvens no horizonte,
o Brasil tem uma grande chance de
dar uma mexida geral. Os governos
do país e de São Paulo destinam bilhões para a indústria de carros sem
nenhuma contrapartida. Nem Serra, nem Lula, nem Dilma parecem
acreditar na variável ambiental.
Outros líderes vêem nela uma
chance para a economia no buraco.
Não podemos culpar apenas os
políticos pela calma bovina diante
da tempestade. Novas respostas para novas situações nem sempre nos
animam.
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