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CARLOS HEITOR CONY
A violência de cada dia
RIO DE JANEIRO - Nos últimos
anos, a rigor, desde a fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio,
quando me perguntam se o governador local é bom ou mau, costumo
responder que é bom, é ótimo, mas
nem sempre vai lá das pernas por
causa da violência urbana que derruba sua competência, sua boa
vontade, e, até mesmo, sua credibilidade política e pessoal.
A lista é grande e respeitável, e
uns pelos outros, todos tentaram
fazer o melhor. O primeiro da série
foi o almirante Faria Lima, governador biônico, ligado ao regime militar. Lembro que escrevi um artigo
na "Manchete", intitulado "A violência nossa de cada dia". O almirante mandou uma carta à direção
da empresa e devolveu todos os
exemplares da revista que recebia
de cortesia.
De lá para cá, a violência continuou a mesma. Até aumentou. O
aparelho estatal era incapaz de dominar os grotões onde se formavam
as lideranças do crime. Mudaram
os governadores, mudaram os bandidos que empolgavam o poder paralelo na cidade.
Houve uma época em que os bicheiros foram considerados a besta
negra da violência carioca. Uma
juíza botou todos os chefes do bicho na cadeia, a violência não diminuiu, pelo contrário, tornou-se
mais operacional.
Hoje, o bicho corre solto no Rio,
meninas de 15 anos recebem as
apostas livremente em todos os
cantos da cidade. Os policiais também fazem sua fé com elas.
A besta negra de plantão são
agora os traficantes. Eu me pergunto se serão mesmo. Evidente que
eles têm culpa no cartório, mas os
movimentos do crime organizado
revelam um comando, uma infraestrutura sofisticada que transcende
o tráfico.
É um pedaço da sociedade que
atua acima da lei, mais forte do que
a lei. Os traficantes podem ser a tropa de elite do crime. Mas o furo é
mais em cima.
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