São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

A violência de cada dia

RIO DE JANEIRO - Nos últimos anos, a rigor, desde a fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio, quando me perguntam se o governador local é bom ou mau, costumo responder que é bom, é ótimo, mas nem sempre vai lá das pernas por causa da violência urbana que derruba sua competência, sua boa vontade, e, até mesmo, sua credibilidade política e pessoal.
A lista é grande e respeitável, e uns pelos outros, todos tentaram fazer o melhor. O primeiro da série foi o almirante Faria Lima, governador biônico, ligado ao regime militar. Lembro que escrevi um artigo na "Manchete", intitulado "A violência nossa de cada dia". O almirante mandou uma carta à direção da empresa e devolveu todos os exemplares da revista que recebia de cortesia.
De lá para cá, a violência continuou a mesma. Até aumentou. O aparelho estatal era incapaz de dominar os grotões onde se formavam as lideranças do crime. Mudaram os governadores, mudaram os bandidos que empolgavam o poder paralelo na cidade.
Houve uma época em que os bicheiros foram considerados a besta negra da violência carioca. Uma juíza botou todos os chefes do bicho na cadeia, a violência não diminuiu, pelo contrário, tornou-se mais operacional.
Hoje, o bicho corre solto no Rio, meninas de 15 anos recebem as apostas livremente em todos os cantos da cidade. Os policiais também fazem sua fé com elas.
A besta negra de plantão são agora os traficantes. Eu me pergunto se serão mesmo. Evidente que eles têm culpa no cartório, mas os movimentos do crime organizado revelam um comando, uma infraestrutura sofisticada que transcende o tráfico.
É um pedaço da sociedade que atua acima da lei, mais forte do que a lei. Os traficantes podem ser a tropa de elite do crime. Mas o furo é mais em cima.


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