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ELIANE CANTANHÊDE
Deixem o homem trabalhar!
BRASÍLIA - Guido Mantega fica.
Henrique Meirelles fica. Apesar da
expectativa gerada pelos 60% de
votos na reeleição, nada indica que
haverá grandes mudanças, boas ou
ruins, no segundo mandato.
Se há mudanças, são nos índices
de crescimento para 2007. Começaram em 5%, já caíram para 3,8%
antes mesmo de o ano começar e
tendem a seguir o mesmo caminho
dos índices de 2006, que foram desmilingüindo, desmilingüindo e...
desmilingüiram.
Mas o governo tem sorte. Aliás,
Lula tem sorte. Sempre teve, desde
que começou a fazer política sem se
dizer político, a ter apoio da esquerda sem se dizer de esquerda. Pode
reduzir o quanto quiser a previsão
de crescimento, porque ninguém
está interessado em números. Quer
dizer: nesses números abstratos, os
do crescimento.
Toda a opinião pública só tem
olhos para os números do Congresso: aumento de 91% nos salários, o
veto do Supremo, a falta de acordo
entre os líderes, todo mundo batendo cabeça para decidir um novo índice de aumento, o corte ou não de
vantagens extras, se a decisão deveria ser em 2006 ou em 2007.
Mais uma vez -e como desde o
início do primeiro mandato-, Lula
é salvo, ora pelo Congresso, ora pelo
PT. Mensalão? Crucifique-se quem
estava sendo comprado, esqueça-se
quem estava comprando. Cuecas,
dólares, Land Rover, compra de
dossiê contra adversários? Crucifique-se o partido, esqueça-se o presidente (que é do partido).
É evidente que Lula não tem nada a ver com os aumentos que os
parlamentares se autoconcederam
no apagar das luzes desta legislatura. Mas não é demais dizer que esse
tipo de Congresso e esse tipo de coisa bem que convêm a ele. Opinião
pública, horrorize-se com o Legislativo, esqueça-se do Executivo.
Crescimento? Emprego? Parem
com essas cobranças bestas. Concentrem-se no Congresso. E deixem o homem trabalhar!
elianec@uol.com.br
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