São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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PLÍNIO FRAGA

De Luís 14 a Lula14

RIO DE JANEIRO - O primeiro livro sobre a história nacional completou ontem 383 anos. Frei Vicente do Salvador concluiu sua "História do Brasil" em 20 de dezembro de 1627, no qual buscava explicar por que a jovem nação de 127 anos "não permanece nem vai em crescimento".
O livro tem uma versão digital que pode ser acessada no site da Biblioteca Nacional (www.bn.br). Seus críticos dizem que é uma obra com histórias do Brasil, não sobre a história do Brasil. Mas está aí o que a mantém atraente até hoje.
Frei Vicente registra o que Darcy Ribeiro chamava de primeiro sintoma da divinização do estrangeiro na formação nacional.
"Só de [os índios] verem homens vestidos e calçados, brancos, e com barba, do que tudo eles carecem, os tiveram por divinos, mais que homens, e assim chamando-lhes caraíbas, que quer dizer na sua língua coisa divina, se chegaram pacificamente os nossos", escreveu.
A divindade dos caraíbas nacionais se contrapõe à casualidade dos "espumas do mar", como os índios chamaram os espanhóis.
A lembrança de Frei Vicente pareceu oportuna após a declaração do presidente Lula de que está impossibilitado de dizer não à hipótese de voltar a ser candidato em 2014, mostrando como o eixo do interesse particular suplanta o do bem comum nas decisões políticas.
"Sou um político nato", justificou Lula, sem elencar hipótese outra que não seu desejo. Não aventou continuidade alguma, apenas o fato pessoal de ser "político nato".
No primeiro capítulo de "História do Brasil", Frei Vicente, sem saber, antecipava uma característica que permanece arraigada quatro séculos depois: "Nenhum homem nesta terra é republicano nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular". O projeto Lula (20)14 só faz sentido se baseado na premissa de Luís 14, nascido nove anos após a conclusão do livro de Frei Vicente: "O Estado sou eu".


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