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Razão e preconceito
ENVIESADA e precipitada: é o
mínimo que se deve dizer
da nota de repúdio de uma
centena de psicólogos, advogados, antropólogos e educadores
contra estudo biológico sobre
comportamento violento de 50
jovens infratores no Rio Grande
do Sul. O projeto nem foi submetido a um comitê de ética em pesquisa, mas os signatários já lhe
atribuem "velhas práticas de exclusão e de extermínio" e "retrógradas práticas eugenistas".
O grupo da PUC-RS e da
UFRGS planeja comparar jovens
sob custódia do Estado que cometeram homicídios antes dos
18 anos com outros sem registro
de violência. Entram na comparação histórico familiar e educacional, psicodiagnóstico, imagens do funcionamento do cérebro e variações genéticas, entre
outros aspectos.
O protocolo da pesquisa prevê
obtenção de consentimento dos
jovens estudados, de familiares e
até do Poder Judiciário. Nada garante que identifique correlações significativas. Excluí-las de
antemão, contudo, só ocorre a
quem nega a priori que eventos
cerebrais sejam relevantes para
explicar o comportamento. A um
determinismo biológico opõem
outro, o do ambiente social.
A censura é uma reação estereotipada à associação de biologia com comportamento. No século 19 e no início do 20, de fato,
a suposição atabalhoada de uma
relação causal entre características físicas (inclusive "raça") e capacidade mental, sem base real,
produziu monstruosidades. Essa
pseudociência foi demolida com
argumentos teóricos e resultados empíricos, como convém.
Não é o que se observa agora.
Nas "Regras para a Direção do
Espírito", Descartes alertava já
em 1628 que prevenção e precipitação são as grandes fontes do
erro. Ao estigmatizar o estudo
com noções preconcebidas, os
autores da nota advogam proibição incompatível com a busca do
conhecimento.
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