São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Pequena e inútil vingança

ZURIQUE - Estou a caminho de Davos pelo 17º janeiro consecutivo, para cobrir o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
Topei com um punhadinho de crises: a mexicana (1995), a asiática (de 97, mas que repercutiu em Davos só em 98), a russa e a brasileira (99), a argentina (com reflexo em Davos em 2002).
Todas elas ocorridas na periferia do sistema econômico global. Conseqüência: uma interminável seqüência de sermões pra cima da bugrada, ensinando-nos como deveríamos nos comportar, como éramos irresponsáveis e por aí vai.
Esses sermões nunca me incomodaram muito. Davos sempre foi, para mim, uma espécie de curso de pós-graduação em atualidade mundial, econômica, política e um imenso etc., dado em menos de uma semana. Em um curso, escuta-se e aproveita-se o que parece bom e deleta-se o resto.
O que realmente me incomodava era o fato de que, entre os bugres, havia um mundão de gente pronta para acolher esse tipo de sermão como a palavra de Deus, não como meros palpites.
Neste ano, suponho que será diferente. Davos vai começar sob o impacto do derretimento das Bolsas no mundo todo, mas especialmente no mundo rico. A crise é deles, embora dificilmente deixe de afetar os países ditos emergentes.
Mais: o epicentro da crise está no sistema financeiro, justamente aquele que é capaz de desestabilizar governos com suas apostas alucinadas e, às vezes, cegas -o único capaz, diga-se, já que golpes militares caíram de moda e o grito das ruas é, em geral, débil.
Numa das crises, a do Brasil, em 1999, o arrogante Lawrence Summers, então subsecretário do Tesouro, brincou: a moeda brasileira, que derretia, não era real, era virtual. Summers volta este ano a Davos. Dá vontade de perguntar: e, agora, Larry, o que dizer do dólar, furadíssimo?

crossi@uol.com.br


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