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CLÓVIS ROSSI
Pequena e inútil vingança
ZURIQUE - Estou a caminho de
Davos pelo 17º janeiro consecutivo,
para cobrir o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
Topei com um punhadinho de
crises: a mexicana (1995), a asiática
(de 97, mas que repercutiu em Davos só em 98), a russa e a brasileira
(99), a argentina (com reflexo em
Davos em 2002).
Todas elas ocorridas na periferia
do sistema econômico global. Conseqüência: uma interminável seqüência de sermões pra cima da bugrada, ensinando-nos como deveríamos nos comportar, como éramos irresponsáveis e por aí vai.
Esses sermões nunca me incomodaram muito. Davos sempre foi,
para mim, uma espécie de curso de
pós-graduação em atualidade mundial, econômica, política e um
imenso etc., dado em menos de uma
semana. Em um curso, escuta-se e
aproveita-se o que parece bom e deleta-se o resto.
O que realmente me incomodava
era o fato de que, entre os bugres,
havia um mundão de gente pronta
para acolher esse tipo de sermão
como a palavra de Deus, não como
meros palpites.
Neste ano, suponho que será diferente. Davos vai começar sob o
impacto do derretimento das Bolsas no mundo todo, mas especialmente no mundo rico. A crise é deles, embora dificilmente deixe de
afetar os países ditos emergentes.
Mais: o epicentro da crise está no
sistema financeiro, justamente
aquele que é capaz de desestabilizar
governos com suas apostas alucinadas e, às vezes, cegas -o único capaz, diga-se, já que golpes militares
caíram de moda e o grito das ruas é,
em geral, débil.
Numa das crises, a do Brasil, em
1999, o arrogante Lawrence Summers, então subsecretário do Tesouro, brincou: a moeda brasileira,
que derretia, não era real, era virtual. Summers volta este ano a Davos. Dá vontade de perguntar: e,
agora, Larry, o que dizer do dólar,
furadíssimo?
crossi@uol.com.br
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