São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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KENNETH MAXWELL

Conversas ao lado da lareira

NAS CELEBRAÇÕES desta semana em Washington surgiu um contraste interessante durante a posse de Barack Obama. O registro estatístico é claro: 89% da população acredita que Obama ouvirá o que eles têm a dizer, e 71% dela acredita que ele iniciará grandes mudanças. Isso era evidente no entusiasmo com que Obama foi saudado durante sua histórica jornada de trem entre Filadélfia e Washington, no sábado. As multidões que se reuniram para aplaudi-lo eram muito diversas e incluíam grande número de negros.
Mas o governo Obama é formado em larga medida por veteranos dos anos Clinton, especialmente na crucial área da política econômica -homens como Lawrence Summers, o novo presidente do Conselho Econômico Nacional de Obama. Antigo secretário do Tesouro de Clinton, Summers posteriormente teve uma passagem controversa pela reitoria da Universidade Harvard, posto ao qual renunciou sob pressão do corpo docente.
Doris Kearns Goodwin, historiadora cuja especialidade são os presidentes dos EUA, sugeriu que Obama precisará desenvolver um meio de comunicação direta com o público em geral, que lhe permita contornar, ou passar por cima, de seus indicados; uma retomada das famosas "conversas ao lado da lareira" ("fireside chats") do presidente Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão. Roosevelt inventou uma forma de se comunicar pelo rádio que causava a impressão de uma conversa íntima, de um papo informal entre o presidente e os eleitores, ao lado de sua lareira na Casa Branca, para tratar de assuntos de interesse cotidiano.
O problema com esse tipo de proposta é que os anos 30 eram uma época muito diferente. Hoje, a oposição republicana sem dúvida alegaria que Obama está tirando vantagem indevida de seu cargo, e exigiria direito de resposta. A internet, porém, oferece uma forma de contato direto entre o presidente e o povo.
A campanha presidencial de Barack Obama usou a internet para arrecadar verbas (cerca de US$ 750 milhões) e mobilizar partidários em todo o país.
Ninguém é obrigado a usar a internet. Mas, caso a mensagem seja interessante o bastante, as pessoas o farão. Metade de seus simpatizantes na internet de fato espera receber informações de Obama e de seu governo. Aliás, uma das primeiras mudanças da nova administração foi colocar no ar um blog no site da Casa Branca. Será fascinante observar, nos próximos meses, como o presidente Obama enfrentará esse dilema de comunicação à medida que a crise econômica se aguça, já que ele precisará de algum meio para explicar a seus eleitores como e por que as políticas que adotou estão funcionando.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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