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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Mochila vazia
SÃO PAULO - Ponha "Avatar" de
lado. George Clooney é Ryan Bingham, executivo de uma empresa
especializada em demitir funcionários de outras corporações. Esse demitidor de elite é o protagonista de
"Up in the Air" ("Amor sem Escalas" na destradução local), filme de
Jason Reitman que estreia hoje.
Entre uma demissão e outra, o
personagem vive no avião. Sua obsessão é atingir dez milhões de milhas no ar. "No ano passado, tive
que aguentar 43 miseráveis dias em
casa", contabiliza. Profissão, estilo
pessoal e filosofia de vida se fundem
na sua figura descompromissada.
Em suas viagens, ele promove o
"way of life" que personifica em palestras motivacionais sobre "Como
Esvaziar a Sua Mochila". O segredo
consiste em fazer a plateia sentir
quanto pesam as tralhas materiais e
os laços afetivos acumulados ao
longo da vida.
Bingham vê seu mundo ameaçado quando Natalie (Anna Kendrick), uma jovem executiva, sugere um método mais econômico de
cortar cabeças: por teleconferência.
Ambiciosa e provinciana, Natalie
confidencia que, ainda adolescente,
imaginava chegar à casa dos 20 casada com um executivo de sucesso,
dirigindo um jipão da moda, com filhos e cachorro de raça na bagagem.
Seu ideal de vida convencional
contrasta com o cinismo cosmopolita de Alex (Vera Farmiga), versão
feminina de Bingham, a parceira
perfeita para um bom papo e uma
noite de sexo casual num cinco estrelas. As coisas, porém, não são tão
fáceis como parecem. Mas guardemos o final, antes que o leitor demita o colunista pela internet.
As demissões (e os demitidos, todos colhidos na vida real) ocupam
só o pano de fundo da trama. Ainda
nos anos 90, o psicanalista francês
Cristhope Dejours escreveu um livro ("A Banalização da Injustiça Social") discutindo as razões que levam pessoas ditas "de bem" a aceitar fazer o "trabalho sujo" e cometer crueldades contra terceiros. A
"banalidade do mal" no mundo corporativo era seu tema. "Up in the
Air" arranha essa ferida.
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