São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

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Paz fria

Relações de EUA e China, as duas maiores economias do mundo, devem continuar se equilibrando entre interesses comuns e atritos inevitáveis

A visita do presidente chinês, Hu Jintao, a Washington fornece alguns indicativos sobre como deve transcorrer o principal relacionamento da diplomacia mundial nos próximos anos.
No passado recente, a interdependência entre os dois países no cenário econômico aumentou de maneira significativa. As reservas em moeda estrangeira da China eram de US$ 14 bilhões em 1989. Vinte anos depois, ultrapassavam os US$ 2 trilhões. Ao comprar títulos do Tesouro americano, os chineses financiam a maior parte dos excessos dos EUA, que enfrentam deficit fiscal de US$ 1,3 trilhão.
Durante a visita, foram anunciados acordos comerciais que devem gerar US$ 45 bilhões em exportações dos EUA, número importante, dado que o passivo comercial americano com a China está em US$ 240 bilhões -há 20 anos, era de US$ 6 bilhões.
A desvalorização do yuan, no entanto, mantida artificialmente pelos chineses para impulsionar as vendas ao exterior, continua como problema a ser resolvido.
A economia chinesa ultrapassou a do Japão e tornou-se a segunda maior do planeta. Em 2010, cresceu 10,3%. Em até duas décadas, o país deve superar os EUA, apesar da enorme miséria.
No entanto, ainda que a influência dos EUA possa declinar, sua superioridade militar permanecerá inconteste por muitos anos. Possuem o Exército mais bem equipado e treinado do mundo e um arsenal estimado em mais de 9.000 ogivas nucleares.
Obama cobrou do líder chinês avanços nos direitos humanos, algo que havia feito de forma tímida e desapontadora em sua visita a Pequim, em 2009. Hu Jintao reconheceu que "ainda há muito a ser feito" nessa questão, mas evocou o princípio da "não interferência" em assuntos internos -embora tenha ele próprio feito uma inédita crítica pública à Coreia do Norte.
O jantar de Estado oferecido por Barack Obama a Hu Jintao -que não se concedia a um líder chinês desde 1997- foi um gesto simbólico. Mas a troca de alfinetadas à frente dos microfones, rara na diplomacia, e as críticas manifestadas pelo Congresso expuseram as desconfianças que persistem.
As relações entre os dois países não têm paralelo, em termos de rivalidade, com as mantidas por EUA e União Soviética durante a Guerra Fria. O componente ideológico perdeu relevância e os interesses econômicos sino-americanos estão intrinsecamente conectados. Essa espécie de "paz fria" não significa que chineses e norte-americanos estejam a um passo da concórdia. Nada indica que os atuais pontos de atrito -como o câmbio artificial e a soberania de Taiwan- devam se dissipar, e outros certamente surgirão à medida que a China cresce em relevância.
É essa tentativa de equilíbrio entre divergências e interesses comuns que a agenda bilateral deverá continuar a perseguir.


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