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CARLOS HEITOR CONY
O marinheiro do rio Arruda
RIO DE JANEIRO - Um clichê que continua em atividade garante que o
primeiro amor não se esquece. Tampouco a primeira vez que se pratica o
sexo. Menos importante do que o
amor e o sexo, Carnaval a gente costuma esquecer ou, pior, misturar um
no outro, dando tudo na mesma dentro da caverna onde guardamos a
memória.
Para o meu bem ou para o meu
mal, não esqueci o primeiro Carnaval. A festa não deixa de ser um processo. Em criança nos botam uma
fantasia qualquer, pintam nossas bochechas e, se somos fotografados pelas revistas, merecemos a legenda: "O jovem folião".
Não é esse o Carnaval que conta.
Quando nos descobrimos adultos, já
passamos por muitos carnavais, nunca há o primeiro.
Contudo, desprezando os carnavais
da infância mais profunda, tive o
meu primeiro Carnaval quando, aos
20 anos, saído do seminário onde estudava para padre, encarei outro clichê que a imprensa daquele tempo
divulgava, o "tríduo momesco".
Não era mais criança e aprendera a
desdenhar o diabo, o mundo e a carne. Uma prima, penalizada pela minha forçada inocência, fez questão de
levar-me a um baile, um baile comportado. Mais tarde frequentaria
bailes incrementados e até mesmo
atentatórios à moral e aos bons costumes, um deles chamado "baile do
cabide", em que se pendurava a roupa ou a fantasia num cabide e se
dançava como o Diabo e a carne queriam -a mesma carne e o mesmíssimo Diabo que eu jurara renunciar
para sempre.
Desajeitado, numa detestável fantasia de marinheiro do rio Arruda (o
baile era em Belo Horizonte), a prima apresentou-me vagamente a algumas amigas e sumiu com um cara
fantasiado de centurião romano ou
coisa equivalente.
Sozinho, entregue às feras, fiquei
pelos cantos, até que uma havaiana
de coxas monumentais me tirou para
dançar. Perguntou se era a primeira
vez. Até hoje não sei como ela adivinhou.
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